Onde você estava quando a Seleção Brasileira recebeu uma surra monumental da Alemanha? Todos lembrarão. Ali, testemunhamos o fim da mística da camisa canarinho. Não bastasse atingir o fundo do poço, afundamos ainda mais. Abrimos novos canais subterrâneos da amargura. Não houve reação, não houve reerguimento, não houve lição.
Há 10 anos, exatamente, o futebol brasileiro passava a sua maior vergonha. Levava 7 a 1 da Alemanha em pleno Mineirão, numa semifinal da Copa do Mundo. O resultado acabou se transformando em “Mineiraço”, trocadilho com “Maracanaço”, como ficou batizada a derrota da Seleção Brasileira no Mundial de 1950, no Maracanã, no fatídico 2 a 1 para o Uruguai.
Em seis minutos, sofremos quatro gols: Klose, aos 23 minutos do primeiro tempo, Kroos, aos 24 e aos 26, e Khedira, aos 29. Parecia várzea, treinamento, confronto entre profissionais e amadores. O apagão durou a partida inteira.
Comemoramos o aniversário do fiasco com a eliminação precoce na primeira etapa do mata-mata da Copa América. Foram quatro jogos, com apenas uma vitória (diante do Paraguai) e três empates. Nunca tínhamos empatado com a Costa Rica. Por pouco, não superamos a pior campanha, de 2016, em que caímos na primeira fase - num grupo com Equador, Peru e Haiti - e também alcançamos uma única vitória.
O torcedor deverá assistir à sua rival Argentina levantar mais uma taça, como na última Copa do Mundo.
Não é um mau momento, é uma tradição longa de vexames e desgostos. Troca-se o técnico, de Fernando Diniz para Dorival Júnior, não se muda a atitude. É uma constelação de atletas milionários que unicamente jogam em seus clubes na Europa. Nem Vinicius Júnior é capaz de carregar sozinho o caixão.
A desorganização tática cria uma dependência a Neymar que não corresponde às expectativas de glória. Até hoje, ele não conquistou o título de melhor do mundo e não vem atuando pelo seu time Al-Hilal nos inexpressivos campos árabes, já que está lesionado desde o ano passado. De qualquer modo, o ídolo não serve como consolo, mais perto da aposentadoria do que do auge da sua forma física.
A verdade é que ninguém mais torce pela Seleção Brasileira. Perdeu o crédito. Perdeu a magia. Perdeu a seriedade.
A verdade é que ninguém mais torce pela Seleção Brasileira. Perdeu o crédito. Perdeu a magia. Perdeu a seriedade. Nem a campanha “This is Brasil” da CBF fez alguma diferença. Seu intuito era se contrapor à grafia do nome do país no Exterior - “Brazil” com Z” - e celebrar a singularidade do samba e do sorriso. Só que o “S” que ressurgiu foi o do sofrimento.
Encontramo-nos fora das Olimpíadas, escanteados no Pré-Olímpico. Não ficávamos de fora dos Jogos Olímpicos desde Atenas, há 20 anos. É a quarta vez que não garantimos a vaga (1980, 1992, 2004 e 2024).
Nas Eliminatórias, aparecemos em sexto lugar, com duas vitórias em seis jogos. A sorte é que a Fifa ampliou o número de participantes na Copa (48 seleções), e seis das 10 equipes sul-americanas se classificam diretamente. Mas tudo é possível nesse ritmo lancinante: quem disse que não teremos uma ausência inédita na Copa de 2026, na América do Norte?
Que me chamem de volta quando Leila Pereira assumir a CBF. Enquanto isso, só me preocupo com o meu Inter, torcendo estranhamente para nenhum jogador da minha equipe ser convocado e nos desfalcar em nossos campeonatos.
Brasil virou um triste estorvo, há 10 anos.