A cantora gaúcha Luísa Sonza fez uma música para seu namorado defendendo a fidelidade do seu namoro. Não se importou em se mostrar antiquada.
Para que não restassem dúvidas de quem era o felizardo da sua exclusividade, batizou a canção com o nome dele, Chico, que seria o influenciador digital Chico Moedas. "Diziam pra mim que essa moda passou / Que monogamia é papo de doido / Mas pra mim é uma honra / Ser uma cafona pra esse povo."
O casal badalado estava há quatro meses junto. Só que Chico Moedas parecia viver fora do Spotify. Demonstrou não ser do time romântico do fino trato de seu xará, Chico Buarque, e conseguiu a façanha da indiferença ao trair a sua namorada num banheiro de um boteco na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Ele não apenas pulou a cerca, mas a quebrou em pedaços.
Se ele pensava que o machismo iria prosperar, que Luísa, por ser uma celebridade, tentaria gerenciar os danos e sofrer calada, acabou se danando. Ela surgiu em rede nacional, no programa da Ana Maria Braga, para ler uma carta a Chico, dando detalhes indiscretos de sua aventura num WC sujo e avisando que ele "mexeu com a mulher errada".
Luísa não errou ao confiar em alguém, tampouco sua intensidade merece ser questionada. Não podemos culpabilizar os bons sentimentos. Ela foi enganada, traída, mesmo depois de estrondosa homenagem, mesmo depois de ter cantado publicamente a sua afeição. Temos que cuidar, igualmente, para não tirar os méritos de sua dor procurando antecedentes de outros relacionamentos. Não há atenuantes.
Apesar da ferida sangrando, não se viu presa e refém de sua idealização. Rompeu com aquela bolha chauvinista da banalização do chifre, em nome de todas as mulheres traídas secretamente, em nome da honra da sua mãe e das suas tias. Golpeou com o pedestal do microfone a falta de responsabilidade afetiva masculina. Representou um valioso alerta do fim da passividade: agora, se traiu, leva o troco na hora. Ninguém mais é corno manso.
Luísa não errou ao confiar em alguém, tampouco sua intensidade merece ser questionada. Não podemos culpabilizar os bons sentimentos
FABRÍCIO CARPINEJAR
sobre Luísa Sonza
A novela de altos e baixos também traz a necessidade de mudança de comportamento amoroso. As redes sociais vêm apressando romances. Devemos entender que intimidade exige tempo, que é importante esperar um pouco antes de dizer que encontrou o amor da sua vida. O ideal é segurar a ansiedade pela comemoração do encontro.
Não alardeie o início do envolvimento. Não faça propaganda exagerada. Espere o relacionamento ganhar cumplicidade, desenvolver confiança, até para ver se não está se apaixonando pela sua imaginação, pela sua projeção.
Todo começo requer a discrição do amadurecimento da verdade. É um segredo a dois. Para se precaver da maldade. Para se distanciar da inveja. Para descobrir quem realmente é o outro. Amor é merecimento, não mais uma aposta arriscada.
Não fico com pena de Luísa, mas dele, por ter sido tão incoerente.