Vigora a máxima: você só conhece o cônjuge na hora de se separar.
É um mandamento que os advogados sabem de cor, tabuleta na porta da vara de família.
De tanta gente que acredita nisso, a vontade é se separar antes de pedir em namoro, para ver de cara como o vivente é e não sofrer com as aparências.
Só que a verdade é mais funda. O casal não começou a discutir durante a dissolução dos laços. Ele voltou a discutir. Retomou uma indisposição original.
A ruptura do relacionamento evidencia uma estranheza que nunca deixou de existir, apenas foi mascarada pela intimidade.
A ruptura do relacionamento evidencia uma estranheza que nunca deixou de existir, apenas foi mascarada pela intimidade.
Os alicerces não mudaram.
Esquecemos que era assim no começo de tudo. O início de relação é historicamente feito de implicância, de duas figuras antagônicas que não se entendem e vivem se testando. Sai até fumaça da troca de farpas entre os dois enamorados, tamanha a erupção do vulcão que depois fica adormecido.
Não tem como permanecer ao lado do par de pombinhos se bicando.
Você namora quem não atura, quem não suporta. Acaba permanecendo com aquele de quem pretendia manter distância.
Como você não pode dizer na largada que gosta de alguém, muito menos aceita gostar de alguém absolutamente irritante, expressa o apego pela oposição. Falar mal é uma licença para ter o nome da pessoa sempre presente em sua boca.
Trata-se do monopólio de atenção fundado na crítica, que depois se converte positivamente em atração.
O roteiro redentor é base de toda comédia romântica, que parte da vaia ao beijo no baile.
O inimigo se torna aliado com o tempo partilhado, as confidências, as experiências em comum.
Repare que a maior parte dos romances tem desencontros, gafes e enfrentamentos na sua origem. Não é uma história linear, pacífica, acomodada.
Tanto que é possível ver um casal se formando quando um não para de provocar o outro. A química é deflagrada na rivalidade. Eles não são capazes de fazer um elogio ou recorrer a juras diretas. O discurso se caracteriza pelo tom contraditório, ambíguo e persecutório. Predomina uma culpa por desejar quem não é nem um pouco parecido com você.
Pega-se primeiro no pé para, no futuro, dar a mão.
Na escola, você dizia que odiava um colega porque já o amava. Não queria que ninguém da turma percebesse o que estava sentindo. Tentava esconder as suas emoções demonstrando o contrário.
Se os opostos se atraem, eles são opostos desde sempre. Na convivência, continuam sendo opostos, com suas individualidades protegidas.
Assim sendo, o que me resta concluir é que o amor é uma trégua.
O amor é um longo armistício entre os desentendimentos do princípio do contato e do divórcio.