Nos últimos 12 anos, Porto Alegre reduziu sua população em vez de aumentar.
De 1.409.351 habitantes em 2010, decrescemos para 1.332.570, de acordo com os dados do Censo 2022 publicados pelo IBGE na quarta-feira (28).
São quase 80 mil pessoas a menos.
Os dados assustam numa leitura superficial. Mas, de modo nenhum, influenciam na qualidade de vida.
Pelo contrário, a capital gaúcha nunca esteve tão bonita, tão atrativa culturalmente. A reestruturação e ampliação da orla do Guaíba reconciliou as atividades de lazer do porto-alegrense com as suas margens.
Ainda temos problemas viários — sim! —, ainda temos problemas de segurança — sim! —, mas melhoramos como conjunto turístico.
Já não somos mais apenas o ponto de embarque e desembarque para Gramado como antes.
Recuperamos a estima dos passeios e dos parques, das ciclovias e das caminhadas. Ninguém mais pode protestar contra possível sujeira ou abandono das ruas e avenidas.
O tamanho populacional não mais é um referencial absoluto de metrópole. Não significa ocaso de importância.
No ranking, com a atrofia de 5,45% no número de moradores, Porto Alegre passou do posto de 10ª para 11ª maior capital do Brasil, ultrapassada por Goiânia. Não dá para pensar em Z4. É uma fachada estatística que não revela a evolução, inclusive porque temos a menor média nacional de moradores por domicílio (2,37 pessoas por residência) entre as capitais.
Encolhemos para nos essencializar. Num mundo globalizado, a tendência é mesmo se espalhar. O prognóstico contemporâneo é desocupar progressivamente as capitais. O movimento atinge especialmente cartões postais do país, santuários apinhados de visitação, como Salvador e Rio de Janeiro.
O crescimento populacional foi maior no interior – 66,58% dos habitantes se concentraram fora dos grandes centros urbanos.
Até porque existe cada vez mais uma migração ao contrário com o trabalho remoto. É a preferência por um estilo mais zen e familiar.
As pessoas estão voltando para o interior do estado, para as suas cidades de origem, dispostas a criar os filhos de um jeito antigo e presente. Buscam evitar engarrafamentos, estresse do trânsito e da pressa, e desejam a paz de sua criança ir para a escola a pé, morando apenas a algumas quadras do local de ensino.
No caso do Rio Grande do Sul, há também um deslocamento visível dos nossos conterrâneos para residir nas praias paradisíacas de Santa Catarina. Na Região Sul, Florianópolis disparou com o adicional de 28%. Pode creditar parte dessa inflação dos lares na conta da gauchada.
O que não acho justo e vejo como preocupante é o possível impacto da pesquisa na nossa representatividade política. Deveriam existir outros indicativos, como arrecadação, para a proporcionalidade eleitoral. Numa projeção, perderemos três deputados federais devido ao crescimento baixo do estado.