Quem já esfregou roupas com sabão de coco no tanque, e estragou as unhas, e ressecou as mãos, partilha comigo a mesma convicção: a máquina de lavar é a melhor invenção que existe.
Eu abençoo a máquina de lavar. Eu presto reverência. Nunca, com dois filhos, eu daria conta da casa sem ela. É o meu braço direito. Economizo metade do meu tempo caseiro a partir de seus serviços. Nem a xingo dizendo que ela bebe muito amaciante e lambe excessivo sabão em pó. Compro com sobra seus mantimentos para que ela continue me abastecendo com vontade.
Ela é tão importante que deveria ser instalada no quarto para a sesta. Dormiríamos com os barulhos terapêuticos da lavagem e enxágue, e acordaríamos com o solavanco da centrifugação. Suas operações são perfeitas para a duração de um cochilo depois do almoço.
Lembro que a minha filha, quando pequena, apenas se acalmava ao ver as roupas girando na espuma. Mais do que em passeios no carro, mais do que em andanças no carrinho de bebê, mais do que com cantorias no meu colo.
Eu colocava uma almofada no chão, e ela assistia à lavagem do dia.
A redoma era seu aquário. Às vezes, ela apontava: “olha a minha calça vermelha, olha a minha camisa amarela!”. As roupas nadavam como peixes coloridos perante a sua extrema observação. Ela se divertia com as escamas das vestes, diferenciando os donos de cada peça.
Nem seu desenho predileto na televisão — As Meninas Superpoderosas — produzia tal envolvimento hipnótico.
Sou apaixonado pelas novidades na área. Examino os encartes publicitários no jornal buscando as proezas dos lançamentos. Atualmente, há máquinas que já secam, só falta alcançarem o fundamento de guardar no armário.
Eu já tentei, em várias oportunidades, oferecer de presente uma nova máquina de lavar para a minha mãe. Só que Maria não aceita. Meu carinho é frustrado. Argumenta que a dela permanece cumprindo sua missão.
Antes, pensava que ela não queria que eu gastasse, porque toda mãe é avarenta pelos filhos, prevenindo excessos à toa. Em seguida, fui percebendo que se tratava de um apego honesto, quase uma amizade vitalícia. A durabilidade do seu eletrodoméstico misturava-se à sua própria sobrevivência.
Ela comprou a sua máquina em 1972, ano em que nasci. Tem cinquenta anos.
Nesses dias, a máquina de lavar de minha mãe andou até a porta da lavanderia. Esticou a coleira da tomada ao limite. Virou uma pessoa. Logo mais estará atendendo a campainha. Na hora de centrifugar, ela simplesmente caminha.
Ou ela possui a inteligência da intimidade, que é maior do que qualquer inteligência artificial, ou é mais um milagre da beata Maria.