Eu pedi a cabeça de Mano Menezes. A torcida colorada, na sua maioria, também queria a guilhotina. Estávamos mais sedentos do que o período de terror da Revolução Francesa, em que nem os líderes populares Robespierre (1758-1794) e Saint-Just (1767-1794) foram poupados.
Para a incredulidade da massa vermelha, Mano permaneceu, apesar do seu retrospecto de fracassos no Gre-Nal, freguês de carteirinha de Renato Gaúcho, e de cinco derrotas consecutivas. Há muito tempo eu não via um técnico ser bancado com tamanha lealdade.
O comandante da casamata ainda ficou mais forte com a crise, a partir da saída do preparador físico, de um executivo e do coordenador técnico. O diagnóstico é que havia dificuldades e ruídos na execução dos processos do clube.
Trata-se de um sinal claro e evidente de que o problema não era o Mano.
O que me põe a concluir que se pode dizer tudo do presidente Alessandro Barcellos, menos que ele não é corajoso.
Enfrentou a todos pela sua intuição. Ainda veremos com o tempo se ele estava certo ou errado. Se houver mais derrotas na sequência e eliminações na Copa do Brasil ou Libertadores, ou entrada no Z-4 do Brasileirão, será deposto de sua cadeira. Ninguém terá compaixão a seis meses da eleição da nova diretoria.
Barcellos assumiu uma posição claramente antipática. Qualquer dirigente lavaria as mãos e sacrificaria o técnico para se salvar.
Contrário às tendências, manteve-se absolutamente coerente com o que dizia em entrevistas, honrando fios ordeiros de seu cavanhaque.
Acredita que não é terra arrasada, que Mano é um dos melhores profissionais em atividade no país e merece a chegada dos reforços.
Pena que Abel Braga não contou com o mesmo apreço.
Apesar de discordar de sua decisão, sou capaz de admirá-la. Barcellos não é facilmente influenciável, coisa rara num esporte que mobiliza multidões.
É uma teimosia que beira a loucura antissocial, é um disparate que flerta com o abismo, mas, se a sua manobra encontrar êxito, ele deve receber a total exclusividade dos créditos. Não há solidão mais visceral do que ir contra a unanimidade, e também não há maior sucesso. Quanto mais imprevisível a aposta, maior a fortuna.
Se eu fosse o Mano, aproveitaria essa chance. Barcellos demonstrou, de um jeito sublime, que confia nele.
Ele já tomou uma iniciativa semelhante no passado. Ao ser eliminado surpreendentemente pelo Globo-RN na primeira fase da Copa do Brasil, em março do ano passado, o Inter optou por desligar o executivo Paulo Bracks e deu voto de confiança ao técnico Cacique Medina.
Talvez Barcellos vislumbre mais esperança nesta nova situação, calculando que aquilo que não funcionou antes pode funcionar agora, dependendo da mobilização do grupo.
Caso ganhe um título e tire o time do jejum de seis anos, vai ter o direito a uma desforra gigante no Beira-Rio.
Se eu fosse o Mano, aproveitaria essa chance. Barcellos demonstrou, de um jeito sublime, que confia nele.
Vou torcer. Minha razão não é superior à minha torcida.
E, na hipótese da retomada vitoriosa, que Mano Menezes não venha a solicitar dispensa repentinamente para treinar o Corinthians antes do fim da temporada, que seria a mais pura ingratidão.