Na crônica de terça-feira, confessei que já fui apaixonado por minha fonoaudióloga. Pois logo me tornei reincidente em quebrar a cara com a professora do segundo ano do Ensino Fundamental.
Não assimilei o golpe anterior e permaneci ingênuo no meu romantismo. Ainda acreditava que uma mulher adulta poderia esperar que eu crescesse para se casar comigo.
Na escola Imperatriz Leopoldina, eu queria rodar de ano para repetir a professora. Temia passar nas provas e ter uma tia nova. Na época, havia uma professora nas séries iniciais para todas as disciplinas.
Eu me esforcei para ir mal. Deixava respostas (que eu sabia) em branco, não entregava deveres na manhã seguinte, conspirava contra a minha evolução, permanecia imóvel na minha cadeira quando chamado para a frente da lousa, acumulava a compaixão da caneta vermelha nos ditados.
Além do comportamento errático nas lições, demonstrava meu interesse deixando uma maçã, uma flor, um desenho, um cartão para a professora antes do início das aulas.
Lembro que foi durante essa relação platônica que passei a me preocupar em me arrumar para sair de casa. Passava gel no cabelo amansando o redemoinho rebelde dos fios matutinos e fazia barbas imaginárias com a loção e o pincel roubados de meu pai.
Eu sempre levava algo de presente na mochila, somente para ouvir a voz da professora me agradecendo. Aliás, a turma inteira entregava oferendas para ela. Professora na minha infância era a filial na terra da Nossa Senhora dos Navegantes.
Sua mesa vivia abarrotada de lembranças da nossa classe. Sobrava só um cantinho para os livros e o estojo de madeira do giz.
Um dia, sem nada para dar a ela, sem ter um pretexto para puxar conversa com ela, decidi pular a cerca de um jardim e roubar uma rosa vermelha linda.
Eu sempre levava algo de presente na mochila, somente para ouvir a voz da professora me agradecendo.
Eu me senti o Pequeno Príncipe, versão malandrinho. Recém tinha lido o livro e sublinhado a frase: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
Ao entregar a rosa para a professora, seu semblante pareceu levemente contrariado, diferente da adesão alegre às minhas antigas surpresas e juras.
Com as sobrancelhas levantadas, ela me repreendeu:
— Obrigada, Fabrício, mas não precisava ter roubado a rosa do meu jardim.
Da enormidade de casas da redondeza, escolhi justamente a da professora. Podia ter me informado antes sobre onde ela morava no bairro. Como ladrão, não levava jeito, agi de modo absolutamente amador. Sequer estudei a vizinhança.
Por vergonha, mudei radicalmente de comportamento, recuperei o tempo perdido e assumi como prioridade trocar de série sem recuperação. Não desfrutava de condições psicológicas de vê-la novamente por 365 dias.
A fossa me colocou a estudar. Azar no amor e nas flores, sorte no aprendizado.