Inconformadas em ver colegas faltando aula por não terem acesso a absorventes, alunas da Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint Hilaire, da Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, decidiram desenvolver um projeto para maior conscientização sobre pobreza menstrual. A expressão se refere à falta de estrutura de higiene, saneamento, recursos e informação para meninas e mulheres e atinge comunidades em maior vulnerabilidade social.
— A gente via na escola e fora dela que tinham muitas meninas que faltavam aula porque estavam menstruadas e não tinham condições de cuidar da sua saúde menstrual. Isso é uma violência de gênero. Indignadas, decidimos criar um projeto que falasse sobre isso e fizesse chegar o conhecimento até para os meninos, porque menstruação é um assunto de todo mundo — salienta Joana Souza, 13 anos, aluna do 8º ano.
Batizado de "Garotas de Vermelho", o coletivo, criado por 20 alunas, com idades entre 7 e 16 anos, buscou parceiros e confeccionou um kit educativo com itens como absorventes sustentáveis feitos de tecido, bolsinha térmica para cólicas e até um livro infantil escrito e ilustrado pelas meninas com uma história educativa, intitulado "De onde é esse sangue, Joana?".
— Pesquisamos e não achamos nada que falasse de menstruação para o público infantil, então decidimos criar nosso próprio livro, que usamos para contar para as crianças — conta Emili Fernanda da Pereira, 11 anos, estudante do 6º ano.
— Uma vez deixei um absorvente cair da mochila e saí correndo porque os meninos viram, mas menstruação não deve ser algo escondido, precisa ser algo que todos tenham conhecimento — complementa Camile Eduarda da Rosa Carvalho, 12, que está no 7º ano.
Cada kit vendido reverte recursos para que uma menina da comunidade escolar ganhe outro igual. A iniciativa deu tão certo que conquistou um prêmio nacional do Desafio Liga Jovem, no dia 24 de março, em São Paulo. Promovido pelo Sebrae e pelo Instituto Ideias de Futuro, a competição é o maior campeonato nacional de empreendedorismo e tecnologia para estudantes do Ensino Fundamental e Médio de todo o país (tanto de escolas privadas quanto públicas).
O trabalho das gaúchas foi apresentado na Bossa Summit, uma das principais feiras de startups da América Latina, ficando entre os seis premiados do Brasil e sendo o único da Região Sul. Apenas seis projetos foram premiados entre 1,2 mil inscritos em todo o país. Como premiação, a equipe recebeu o convite para enviar representantes em uma missão internacional em Madri, na Espanha.
—Foi incrível! Passamos 1,2 mil equipes, fomos para a final, com 100 equipes finalistas, passamos e vamos para Madri. A Espanha é um pais que está tão avançado nas políticas para as mulheres, então para nós é muito importante essa premiação —comemora a professora que acompanha o projeto, Maria Gabriela Souza.
Como incentivo, o coletivo também vai visitar outras escolas da rede municipal para apresentar a iniciativa a mais alunas e divulgar a educação menstrual.
— Elas vão poder beneficiar outras meninas — salienta a professora.
Quem quiser apoiar o projeto, pode adquirir o kit pelo valor de R$ 100. O preço ajuda a pagar a mão de obra das costureiras e o material. O valor é convertido em doação a meninas que não têm condições. O kit conta com dois absorventes de tecido, uma bolsa térmica de sementes para alívio das cólicas, uma necessaire, o livro escrito pelas próprias alunas do coletivo, um folheto informativo sobre menstruação, artesanato das mulheres empreendedoras da comunidade, um broche e uma fitinha do projeto. Há ainda um viés voltado para ações sustentáveis, como um lápis semente (que pode ser plantado quando tiver o uso finalizado) e um papel que serve de sementeira.