A chacina de Blumenau criou um estado de pânico. Como prevenir ataques sorrateiros a creches e escolas? O Ministério da Justiça e Segurança Pública realizou a Operação Escola Segura, que já resultou em centenas de prisões e apreensões de adolescentes em buscas por todo o país.
O objetivo é prevenir novas ondas de violência a partir da identificação de autores de ideias totalitaristas ou nocivas nas redes sociais.
A partir daí, já deve existir um cuidado essencial para não culpabilizar quem não fez nada, de modo antecipado, por um intento fictício, transformando estudantes que abominam e repudiam a escola em terroristas para as suas famílias.
Jovens são condutores de eletricidade ideológica. Desabafos em contas pessoais nem sempre representam ameaças reais. Entre disparar um tweet e apertar um gatilho, há uma diferença abissal.
Não podemos abrir um perigoso precedente policial, sem flagrantes de armamentos, explosivos e planos de execução, porque concretizaríamos o roteiro do filme Minority Report, estrelado por Tom Cruise e dirigido por Steven Spielberg.
Na trama, numa Washington de 2054, existiria um departamento de polícia especializado em adivinhar homicídios, chamado Pré-Crime. Pessoas seriam presas por acusação de um crime que poderiam cometer no futuro.
Entre disparar um tweet e apertar um gatilho, há uma diferença abissal.
Meu receio é justamente o reforço de estereótipos de discriminação: aquele que tem um histórico de conflitos com a escola já seria visto como propenso ao ato hediondo de assassinar colegas e corpo docente.
Às vezes, cortar o mal pela raiz é apenas dobrar casos de condenação injusta.
Reações veementes são necessárias e fundamentais, pois os pais vêm temendo levar os filhos para as aulas, mas, na verdade, ninguém sabe o tamanho do inimigo, ou onde ele se encontra, ou como detectá-lo.
Enfrentamos uma maldade subjetiva pelo interior da desagregação familiar. Por exemplo, a polícia de Blumenau chegou à conclusão de que o assassino não estava vinculado a nenhum grupo, não tinha aspirações nazistas nem participava de algum pacto macabro de um game. Agiu sozinho, movido pelo ideal de destruição. Sua falta de motivação apavora ainda mais. Menos dolorido seria ter uma causa específica para estabelecer cercas e impedir o avanço de outros exemplos semelhantes.
Além de investir no patrulhamento das escolas, não seria crucial recuperar os espaços da educação pública, aumentar os salários dos professores e servidores, fornecer tecnologia para as salas?
O governo gaúcho colocou o adicional de mais de 1,7 mil policiais na vigília durante o período de jornada escolar, uma medida protetiva no calor dos acontecimentos.
Nesse sentido, o governo federal disponibilizou o valor de R$ 150 milhões do Fundo Nacional de Segurança Pública a estados e municípios que detêm a competência constitucional para fazer esse patrulhamento ostensivo.
Mas é ainda combater as consequências de modo paliativo e provisório, até porque temos conhecimento da carência de efetivo.
O trauma da truculência reside na precariedade das relações entre o ensino e a família. A escola já não é um bom lugar para se viver. Há muito deixou de ser. Assim como muitos ambientes familiares. E não podemos nos furtar a esse tema de casa em nossa consciência.
Em levantamento da Secretaria Estadual da Educação (SEC), num período de seis meses, escolas estaduais do Rio Grande do Sul registraram pelo menos 45,9 mil episódios de insegurança — média diária de 255 ocorrências envolvendo indisciplina, agressão física, verbal e assaltos.
Antes da repressão digital, cabe nos preocuparmos com a agressividade real e cotidiana, com o desrespeito frequente aos educadores do lado de dentro dos muros da escola, não do lado de fora.
O prefeito de Vacaria, Amadeu Boeira (PSDB), anunciou que serão colocados detectores de metais na entrada de 12 escolas de ensino fundamental. Há iniciativas semelhantes em Marília (SP), Montes Claros (MG) e não param de ser apresentados projetos nas Câmaras Municipais do Brasil buscando blindar o acesso escolar.
Logo mais teremos catracas nas portas das salas de aula, nossas instituições de saber ficarão parecidas com presídios de segurança máxima, os alunos serão obrigados a se apresentar uma hora antes do início das aulas para as filas de revista.
Responder ao ódio com a subtração da liberdade é radicalizar o despertencimento de jovens que já se sentem excluídos em suas comunidades.
Só o afeto afeta uma vida para sempre. Só o afeto.