O Brasil, em 2016, já tinha a quinta maior população idosa do mundo. Em 2030, o número de idosos ultrapassará o total de crianças entre zero e 14 anos. Hoje, somente o grupo etário 60+ é composto por 31,2 milhões, representando 14,7% da população total.
Os planos privados de saúde sofrerão impactos inimagináveis nas próximas décadas. Antes, eles se valiam da inflação para garantir a desoneração das consultas. Atualmente, as operadoras não estão dando conta da demanda. Estima-se um prejuízo líquido, nos nove primeiros meses de 2022, de R$ 3,4 bilhões.
Não gostaria de ser a última geração do serviço.
O pior é que a maior parte das doenças demandadas — hipertensão, diabetes, osteoartrite ou demência — são incuráveis, exigindo assistência hospitalar permanente até o fim dos dias, sem contar as vítimas que virão da obesidade, do alcoolismo, do fumo, em nosso regime de raríssimas campanhas preventivas.
Tratamentos complexos exigem uma série sem fim de consultas laboratoriais, como as intervenções para infarto do miocárdio, derrame cerebral, câncer, obstruções arteriais, enfisema, problemas ortopédicos e neurológicos.
Já não tem como seguir com o modelo indiscriminado de realização de exames, radiografias e tomografias. A draga da saúde privada — o guarda-chuva para tudo a partir de pagamento mensal — vem apresentando a sua apocalíptica fatura.
O IPE Saúde, plano estadual que socorre quase 1 milhão de gaúchos, não foge à regra. Há uma dívida de R$ 185 milhões com prestadores de serviços.
A autarquia que ampara servidores do Estado, dependentes e pensionistas pode quebrar se não houver mudanças significativas.
Minha família é associada ao IPE, sempre foi, desde sempre, desde a minha infância. Já sentimos o desgaste da dívida com a dificuldade de marcação de consultas, com a pouca disponibilidade de médicos credenciados, com a falta de acesso a tratamentos específicos.
Não gostaria de ser a última geração do serviço. Se continuar assim, ele será mais simbólico do que prático. Você terá uma carteirinha bonitinha que não servirá para nada.
Caso não veja com bons olhos a reestruturação do instituto pretendida pelo governador Eduardo Leite, com o aumento da contribuição, um adicional por dependente e a coparticipação em consultas e exames em 50%, ainda digo que é melhor isso do que não ter mais os olhos do IPE em sua vida.
É uma despesa a mais para os credenciados, pois a alíquota dos titulares do plano de saúde saltaria dos 3,1% para 3,6%, só que é uma soma indispensável para a saúde do próprio IPE.
No projeto enviado para a Assembleia Legislativa, o segurado, de acordo com a sua faixa etária, teria condições de escolher pagar o que for menor: ou o valor previsto na tabela, ou o percentual de 3,6% do salário.
Não existe mais como viver de idealização nem acreditar na maternidade incondicional da autarquia.