Há sempre um tempero ou um recheio que vira moda até enjoarmos. Ele aparece de forma despretensiosa nos menus dos chefs em restaurantes de elite até se consolidar em bufês de casamento. Na hora em que surge no cardápio dos casórios, atingiu já o extremo da saturação. É a sua irrevogável decadência.
Na minha infância, sobrevivi à noz-moscada. Até hoje me lembro do molho branco, do purê de batata, do fettuccine Alfredo, do arroz à Piamontese com a especiaria. Se ela servia para abrir o apetite, gerou o efeito contrário do fastio pela sua excessiva constância. Não sei quem teve a ideia de migrar o produto que decorava o capuccino para os mais variados pratos. Com o tempo, seu sabor amendoado, adocicado e quente transformou-se em xarope indesejado. As colheradas vinham na marra, a contragosto, para curar uma gripe imaginária.
Nos anos 80, a overdose foi com o orégano. Tudo levava orégano, tudo ficava com gosto de pizza. A erva assumiu uma condição onipresente de sal ou pimenta. O mesmo abuso que ainda se comete com o queijo ralado na gastronomia italiana cometíamos com o orégano, que temperava frango, peixe e carne.
Você dormia com o jantar na boca. A boca se convertia numa marmita. Escovava os dentes, passava fio dental, bochechava e não se livrava do orégano.
Nos anos 90, foi a vez de rúcula e tomate seco. Havia sanduíches, massas, pizzas, matambres com a combinação. Você se sentia podre de chique pedindo rúcula e tomate seco. Afrancesava o sotaque gaudério.
Eram dois ingredientes que começaram como tenores de ópera e terminaram como uma dupla sertaneja cantando para multidões.
Nos anos 2000, criamos ranço de funghi. Firmou-se como tradição cogumelo em risoto, em medalhão de filé com molho madeira, em spaghetti, em sopas, em batatas. Antes caro e inacessível, a iguaria se popularizou tais conservas de palmito. Qualquer jantar romântico apresentava funghi. Quantos primeiros beijos surgiram da estrutura de reprodução sexuada de alguns fungos dos filos Basidiomycota e Ascomycota?
Nos anos 2010, veio o manjericão com a sua fome implacável de sucesso. E o pior: ele se fazia presente em salgados e doces. Além de seu destaque nas tortas frias, bruschettas, pastinhas de ricota e maioneses, ainda invadiu sobremesas como cheesecake de limão. Foi a maior praga de todas. Havia manjericão inclusive em sucos e drinques. Quem não ficou com antipatia de suas folhas, do amargo de seu talo?
Agora a tendência é alho-poró, impregnando risoto, quiche, sopa, creme. Não tem como fugir do alho-poró, uma hortaliça muito vaidosa. Qual o gosto do alho-poró? Tirar o gosto do resto das coisas.
Quando encontrei o bulbo egípcio num pastel de carne, eu me deprimi ao perceber que terei que conviver com ele por mais oito penosos anos.