Fui acompanhar a minha esposa no shopping. Eu acompanho na boa. Não fico reclamando, acelerando o passeio, cobrando a cortesia do estacionamento, resmungando as demoras e indecisões no provador de roupa. Sou uma sombra comportada. Sento-me num cantinho, naqueles pufes pretos em círculo, e observo o formato das nuvens dos meus pensamentos.
Só não chego ao cúmulo de segurar a bolsa dela. Isso é uma aberração masculina. Cada um com os seus pesos. Depois que você segura uma vez a bolsa, vira capacho para sempre. É um caminho sem volta. Vêm em seguida os chifres e as renas do Papai Noel.
A ciência ainda precisa me explicar como a intuição feminina se antecipa às nossas decisões equivocadas.
Até porque você não pode levar algo se você não sabe o que tem dentro, se você não pode mexer. Corre o risco de acabar preso, desinformado, numa blitz, por transportar muamba.
Imagine que você, todo garboso e leal, carregando a bolsa de sua mulher, é apanhado numa operação da Polícia Militar, e ela diz que a bolsa é sua e que ela não tem nada a ver com isso.
Casamento tem limites.
Naquela tarde, Beatriz se dedicava a espiar promoções de lençóis, contava os mil fios de um e de outro, e eu, matando o tempo, encontrei uma toalha vermelha na estante.
Entenda a epifania: uma toalha vermelha imensa, duas vezes o meu tamanho, brilhante, inesquecível.
Tive um troço, um arrebatamento, um amor à primeira vista. Talvez ela tenha despertado a carência da infância por uma capa de super-herói. Talvez tenha suscitado as histórias romanas das minhas estantes do inconsciente. Ao sair do banho, já me sentiria com o manto do imperador César.
Delirava roçando o rosto no tecido felpudo, quando Beatriz, enxergando o meu interesse um tanto perigoso, surgiu na minha frente para me dissuadir:
— Que horror, tem cor de bispo!
Eu resisti diante da sua corneta, tentando me concentrar em sensações agradáveis e imagens relaxantes, agarrando-me às minhas fantasias, buscando definir se a cor da toalha era Cabernet Sauvignon chileno ou Malbec argentino.
Apesar dos protestos, o vinho mental me embriagou e comprei. A primeira vez que comprava uma toalha, a minha toalha, não uma toalha qualquer escolhida por outros, dobrada para serventia anônima. Não uma toalha coletiva, que qualquer um poderia usar. Faltaria apenas bordar o meu nome nela para completar a possessividade.
Cheguei em casa louco para uma chuveirada, o que é um disparate no nosso inverno.
Na hora de me secar, ela não absorveu nada, espalhava a água na minha pele. Não reclamei por uma questão de orgulho. Concluí que deveria lavá-la na máquina para amaciar suas fibras. Uma semana depois, ela continuou não me enxugando. Eu tiritava de frio. Um mês depois, ela seguiu debochando do meu corpo. Já a tinha estreado o suficiente e não venci a goma da fábrica. Parecia que me esfregava com esponja seca, plástico, capa de chuva. Linda e atraente na loja, mostrava-se impermeável e insossa na convivência.
Hoje ela serve de coberta ao cachorro, em sua caminha. Não tenho nenhum remorso. Mas a ciência ainda precisa me explicar como a intuição feminina se antecipa às nossas decisões equivocadas.