Eu nasci no Hospital Pompéia, em Caxias do Sul. A cada três caxienses, dois terão orgulhosamente o parto feito na instituição centenária da avenida Júlio de Castilhos.
Meu pai era promotor de Justiça na comarca, e tive a alegria de ser gringo.
O anúncio do fechamento próximo do setor materno-infantil só poderia me gerar angústia. É uma definição gravíssima que jamais deveria ser adotada de modo unilateral, ainda que envolva prestação de serviço.
Não há como fechar a porta sumariamente para a população. Não existe nem plano B para uma referência hospitalar que socorre 49 municípios e que tem 84% de atendimentos via SUS (ocorre um investimento de R$ 1,8 milhão mensais no Hospital Pompéia pela Prefeitura de Caxias do Sul para cobrir os valores pagos pela tabela).
Se for um blefe para atrair a iniciativa privada, trata-se de uma postura um tanto equivocada. Saúde não é barganha.
Se for um pedido de socorro, não é pelo pânico que se conquista o respeito, apenas perde-se a credibilidade e cria-se insegurança da informação na comunidade.
A serra Gaúcha entrará em estado de calamidade pública. São 150 partos por mês que não terão nenhum lugar substituto para comportar a demanda. Estaremos regredindo para a manjedoura.
É um quadro que prejudica tanto quem está nascendo quanto quem tenta salvar vidas. Não é apenas a maternidade que será atingida com os cortes do orçamento, mas todas as áreas médicas, apertando ainda mais o gargalo de marcação de consultas da Previdência.
Haverá a suspensão de dez mil exames laboratoriais, redução no atendimento da traumatologia (1.400 cirurgias e 2.400 consultas), raio-X (1.724 exames) e ultrassonografias (332 exames), além da diminuição de consultas oncológicas e exames de eletroneuromiografia e anatomopatológicos.
Com certeza, qualquer pessoa da região será prejudicada de um jeito ou de outro. Ninguém ficará de fora. Famílias entrarão numa situação de risco, dependendo de longos deslocamentos para diagnósticos e tratamentos, quando o tempo da doença é precioso para a tomada de decisões. Dias são meses, meses são anos para aqueles que buscam a cura.
Hospital Pompéia se tornará uma emergência para casos de extrema emergência, a um passo da extinção.
Com o exagero emocional que me cabe nesta hora, afirmo que tal decisão é uma doença.