É uma história real. Aconteceu em Londres.
Russell fraturou o tornozelo e passou a andar de muletas.
Ao passear com seu cachorro caramelo, Bill, notou que ele também estava com um problema na perna. Ia ao seu lado na rua mancando. Achou que fosse um momento isolado, um desconforto passageiro, mas, a cada pulo ao mercado ou à farmácia, o cão caminhava com uma das suas patas suspensa no ar.
Ficou preocupado, e logo pensou no azar de os dois estarem machucados ao mesmo tempo. Não se lembrava de nenhum tombo de Bill ou ocorrência que pudesse ter gerado a lesão.
Levou-o para uma clínica de animais no seu bairro. Fez raio X no seu mascote e uma série de exames para descobrir onde ele tinha se ferido e se era grave.
O veterinário não localizou nenhuma anormalidade. Nada. O cão se encontrava absolutamente sadio, com os ossos no lugar.
Bill somente imitava Russell, por compaixão. Demonstrava solidariedade ao seu dono. Cuidava de seu cuidador assumindo as suas fragilidades. Não queria que ele enfrentasse a dificuldade sozinho.
Se não tem ideia de como praticar empatia, observe o seu cachorro. Ele dá aula de graça.
Já não é de agora que testemunhamos situações extraordinárias de amizade canina.
Os cães não são apenas os melhores amigos nas nossas horas boas, mas os melhores amigos de nossas dores.
Não duvide da lealdade deles tanto na saúde quanto na doença. Eles latem estranho quando você chora, eles lambem o seu rosto quando você não deseja acordar para o trabalho, eles fazem festa quando você se vê desanimado pela saudade de alguém.
Vivem reagindo ao nosso interior, como tradutores da alma, como cópias de nossos estados de espírito, como profetas das consequências dos nossos atos.
Conhecem o nosso batimento cardíaco, o nosso suor, a nossa ansiedade, a nossa esperança, a nossa paz, a nossa insatisfação.
Entendem quando erramos, e não saem de perto durante as nossas falhas. Ficam junto mesmo quando não estamos certos, mesmo quando não somos justos, ensinando-nos a perdoar a nós mesmos. Ninguém mais suporta a nossa amargura, a não ser eles. Combatem a nossa intransigência com uma humanidade desconcertante.
Escutam tudo na véspera do som, escutam as vozes na nossa cabeça, escutam as nossas emoções se formando dentro de nós, escutam mesmo quando ainda não sabemos o que estamos sentindo, quando não temos plena consciência dos fatos.
Eles se antecipam ao celular antes de tocar, a um objeto antes de quebrar, a uma visita antes de chegar, sempre um passo à frente de tudo em nossa vida.