Não é mais sobre futebol, não é mais sobre mulheres, a minha conversa com os amigos virou uma só: quem encontra a gasolina mais barata.
Tornou-se uma animada e galopante gincana. Se alguém localiza o produto num posto por menos de seis reais, já telefona. Não contém o contentamento na linha. Passa a gritar: “eu achei por menos!”.
A sensação é de que a pessoa atravessa magicamente a fronteira da Venezuela entre as cidades da Região Metropolitana ou vê jorrar petróleo de seu pátio, como nas histórias de Monteiro Lobato.
É uma alegria delirante, inexplicável. Eu mesmo consegui gasolina por menos de cinco reais em Novo Hamburgo e realizei uma ronda pelos meus grupos do WhatsApp para me vangloriar da conquista. Tirei foto da bomba para não gerar dúvidas. Nunca pensei que iria tirar selfie abraçado a uma bomba. A que raia da loucura chegamos?
Do mesmo modo, concorro com os meus pais pelo feijão mais viável, pela alcatra mais acessível, pelo arroz em promoção. Aquele que ganha a disputa conta vantagem durante semanas. Somos máquinas registradoras mentais e nem precisamos parar pela necessidade de trocar o rolo.
Retornamos aos tempos incertos do Plano Cruzado, do ministro Dilson Funaro, em que éramos fiscais do presidente José Sarney, representantes possessos do moralismo inflacionário, comparando etiquetas nos supermercados, brigando com os atendentes contra a remarcação, denunciando abusos. Quem lembra? Havia broches e todo mundo se dizia “cidadão consumidor”.
Naquela época, em 1986, a nova moeda tentava conter o descontrole da inflação, que registrou 230% ao ano entre 1983 e 1985.
Repetimos o mesmo caos de leilão, o mesmo pregão de arremates cotidianos, sem constância, sem média tabelada, em profundo desnível de preços pela concorrência varejista. Você sai de casa procurando exceções e querendo ser surpreendido com uma oferta rara. Assim que faz um achado, paga logo para o valor não subir em minutos, para que ninguém descubra o engano. Preço justo hoje é engano.
Não dá para acreditar na nossa realidade. É uma miragem eleitoral.
Com a aprovação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) nº 1/2022 e respectivos acréscimos do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, aumento dobrado do auxílio-gás, instituição do auxílio-caminhoneiro de R$ 1 mil para quase 900 mil motoristas e auxílio-taxista de R$ 300 para toda a categoria no país, viveremos numa bolha consumista no próximo semestre.
Os subsídios representam R$ 41,25 bilhões dos cofres públicos. Ajudaremos a quem precisa não medindo as consequências. Comprometeremos o teto de gastos, a política fiscal, e pode ter certeza de que a inflação não permanecerá nos 11,73% dos últimos doze meses.
Porque simplesmente bolhas explodem.