As redações têm reservas em lidar com notícias sobre suicídio. Não há uma regra, mas entende-se que a descrição dos motivos que conduziram ao gesto extremo pode detonar o gatilho suicida em pessoas em condições semelhantes.
É neste contexto que a reportagem “Cadeiras vazias”, que ilustra a capa de Zero Hora e ocupa oito páginas do caderno DOC, ganha relevância. Há cerca de um ano, quando apurava o impacto da presença de estudantes de fora do Estado em universidades do Interior, o repórter especial Itamar Melo ficou surpreso com o fato de eles relatarem sofrimento psíquico. Na Redação, Itamar compartilhou suas percepções com os principais editores e recebeu sinal verde para continuar na apuração.
Em campo, o repórter conversou com cerca de duas dezenas de alunos, que relataram histórias de sofrimento psíquico, e com mais de uma dezena de professores, especialistas e psicólogos de diferentes universidades e instituições, encontrou estudos que ajudam a dimensionar o problema. O fenômeno preocupa as instituições, que multiplicaram programas de suporte. A reportagem segue recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), que têm manuais orientando jornalistas a cobrir o assunto.
– Os cuidados que tivemos são fruto do aprendizado que fomos construindo em ZH, que inclui regras básicas, como não falar em métodos, escolher uma linguagem adequada, apontar caminhos para buscar ajuda – conta Itamar.
O texto, antes da publicação, foi submetido a um pesquisador do tema, o psiquiatra Rafael Moreno Ferro de Araújo, que coordenou o comitê de prevenção ao suicídio da Associação de Psiquiatria do RS e tem sido um parceiro em várias reportagens sobre o assunto.
A matéria de Itamar é a quinta grande reportagem que ZH produz sobre o tema nos últimos 13 anos – a série Tragédia Silenciosa, publicada em 2008, integra uma cartilha da Associação Brasileira de Psiquiatria dedicada a jornalistas como um exemplo na abordagem do tema.
A morte autoinfligida é tão frequente no Estado quanto assassinatos e óbitos nas estradas, com o agravante de que, diferentemente de acidentes e homicídios, não há políticas nem discussão públicas para conter o fenômeno. No meio universitário, como nos conta Itamar, a comunidade acadêmica começa a enfrentar o problema.