Universidades de diferentes partes do mundo estão desenvolvendo maneiras de dar apoio aos estudantes em sofrimento psíquico e prevenir tentativas de suicídio. Essas iniciativas, que podem inspirar instituições brasileiras, multiplicaram-se nos últimos anos.
O Reino Unido é uma das nações nas quais o problema teve mais repercussão. Em 2015 e 2016, segundo estatísticas oficiais, pelo menos 95 universitários britânicos tiraram a própria vida. Recentemente, o Universities UK, organização que representa as instituições locais de Ensino Superior, lançou um manual com instruções para as faculdades. “A morte de estudantes por suicídio é um desafio global”, alertou a organização.
Várias abordagens têm sido experimentadas no país. A Universidade de Bristol resolveu envolver as famílias. No ano passado, lançou um sistema de alerta emergencial por meio do qual pais, amigos ou outras pessoas são avisados quando há sinais de deterioração da saúde mental de algum aluno. Neste ano, 36 famílias já teriam sido contatadas. A direção da universidade explicou que a intenção é permitir que a ajuda chegue antes de o caso se tornar grave. A sugestão veio dos pais de um universitário que se suicidou. Eles argumentaram que poderiam ter salvo o filho se a universidade tivesse compartilhado informações sobre as dificuldades do aluno.
A aposta da Universidade do Leste de Londres foi analisar dados como taxas de retenção, faltas e participação em atividades acadêmicas para identificar o que podem revelar sobre a saúde mental de cada aluno. O objetivo é detectar e prestar auxílio a quem está em situação de risco, mas não procura ajuda – das 95 mortes do Reino Unido, metade era de jovens sem acompanhamento especializado.
Na Universidade de Wolverhampton, os funcionários sugeriram passar por uma capacitação para a prevenção, e até o momento 450 deles foram treinados. Entre esses funcionários há vigias noturnos e pessoal de limpeza, que aprenderam a reconhecer sinais precoces de que um aluno pode estar em perigo e a usar uma linguagem adequada, que não o estigmatiza ou estimula atitudes negativas.
Nos Estados Unidos, onde há mais de mil óbitos por ano nos campi, um dos princípios em alta é a promoção do bem-estar, visto como uma forma de prevenção. Um destaque é a Universidade de Michigan, na qual foi criada uma organização de suporte por meio da qual os estudantes capacitam e apoiam uns aos outros. Eles podem participar de encontros semanais, frequentar atividades voltadas à formação de um senso de comunidade dentro do campus e formar redes com colegas.
Outros exemplos vêm da Universidade da Califórnia, que oferece treinamento de primeiros socorros em saúde mental, e da Universidade Northwestern, que oferece grupos de meditação, aulas de mindfulness e oficinas para redução do estresse.
A Universidade de Hokkaido, no Japão, desenvolveu um projeto relacionado ao princípio do “gatekeeper training”, bastante usado em prevenção ao suicídio. A ideia foi oferecer treinamento a servidores, capacitando dezenas de funcionários identificar sintomas e intervir. Uma avaliação feita por pesquisadores de diferentes instituições avaliou que o programa teve resultados positivos.
O checklist britânico
O Universities UK publicou um manual de recomendações para as universidades, além de dicas de prevenção às comunidades acadêmicas. Confira algumas:
- Torne a segurança em relação ao suicídio uma prioridade institucional.
- Desenvolva uma estratégia de segurança em relação ao suicídio e um plano de ação como parte distinta da estratégia de saúde mental.
- Identifique os integrantes da equipe de gestão que ficarão responsáveis por isso. Treine e divulgue toda a equipe.
- Treine todos os funcionários que lidam com o estudante em percepção do risco de suicídio, em como identificar sinais de aflição e no que fazer nesses casos.
- Revise e atualize regularmente políticas e procedimentos mais seguros.
- Revise e atualize as políticas e práticas sobre alerta precoce e acompanhamento de estudantes que possam estar passando por dificuldades.
- Trabalhe com escolas, faculdades e outras universidades de sua área para garantir transições suaves entre ambientes educacionais.
- Use e contribua para as pesquisas mais amplas sobre suicídio.
- Crie vínculos fortes com parceiros locais e nacionais da área da saúde, do volutantariado e do governo.
- Encoraje que os alunos com problemas falem do assunto.
- Incentive a formação de redes entre alunos e funcionários.
- Trabalhe para desestigmatizar o suicídio.
- Estimule os estudantes a envolver familiares e outras pessoas próximas quando enfrentarem problemas de saúde mental.
- Providencie treinamentos específicos.
- Forneça serviços de suporte variados e apropriados e divulgue-os por toda a universidade.
- Divulgue também serviços oferecidos fora da universidade.
- Tenha programas para enfrentar o bullying e o assédio.