O som dos teclados golpeados com energia por repórteres mistura-se à algaravia das editorias, ao rádio sempre ligado, a duas dezenas de televisores sintonizados em canais de notícias e de esporte. A Redação integrada é um ambiente tenso e descontraído, quase sempre mais tenso do que descontraído, que nunca silencia – pulsa 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano.
Às 14h da última quinta-feira, porém, a Redação parou para ouvir dois de seus expoentes. A repórter especial Juliana Bublitz e o fotógrafo André Ávila compartilharam suas experiências em Brumadinho – palco de uma tragédia que, até sexta-feira, havia matado 176 pessoas e deixado 134 desaparecidos. Prevista para 15 minutos, a conversa durou 55 minutos.
Juliana e André foram duas vezes a Brumadinho: no dia do rompimento e três semanas após o infortúnio. Na primeira ida, repórter e fotógrafo colocaram ouvintes da Gaúcha e leitores de GaúchaZH, Zero Hora e Diário Gaúcho no palco dos acontecimentos. Com riqueza de detalhes, descreveram a alegria de quem reencontrava parentes, o drama de quem acumulava perdas, a valentia de bombeiros. Eram textos, relatos e fotos com riqueza de detalhes, informação precisa e emoção na dose certa. Quando Juliana entrava na Gaúcha, era possível sentir a textura da lama movediça e o cheiro nauseante de um campo-santo de cadáveres insepultos. De volta à Redação, Juliana e André, ainda sob o impacto de um acontecimento de dimensões planetárias, receberam a missão de revisitar Brumadinho. A ideia era retratar os 30 dias da tragédia pelo olhar de seis bombeiros: Garcia, Heringer, Tárcio, Sandro Júnior, Emília e Antunes.
– São pessoas com quem mantivemos contato em Brumadinho. Eles têm a visão de quem caminhou por um cemitério a céu aberto. Eles viram o horror de perto. Tinham a esperança de encontrar alguém com vida, mas só acharam corpos dilacerados.
Na conversa que calou a Redação, Juliana e André mostraram, em primeira mão, um vídeo que está disponível em GaúchaZH. No vídeo, o cabo Heringer conta que ligou para a esposa e avisou que, mesmo com estiramento na virilha, havia decidido permanecer com seus colegas, longe de casa. Grávida de sete meses, Márcia pediu que o marido olhasse o bolso esquerdo de sua mochila. Lá havia um bilhete escrito à mão: “Papai, volta logo para cuidar da mamãe e de mim”. Heringer desabou.
– Não adiantava estar ali, tentando ajudar, se na minha casa estavam precisando de mim.
Ao final, alguns choraram. Outros permaneceram quietos. Todos aplaudiram. Espero que a reportagem de Juliana e André, em seis páginas do DOC (e em GaúchaZH) emocione os leitores tanto quanto impactou a Redação.