Em 2025 a Rádio Gaúcha completa 98 anos no ar. É a rádio mais antiga em operação no Rio Grande do Sul e uma das mais longevas do país. Ao longo dos anos, ouvimos que o áudio estava ameaçado pela chegada da televisão, depois da internet e mais recentemente pelos podcasts. Como sabemos, todos cresceram juntos. O rádio não morreu, ao contrário, se fortaleceu.
Em maio de 2024, no momento histórico que vivemos no Estado, mais uma vez a força do rádio apareceu. Em meio a dias sem energia elétrica para milhares de pessoas, o radinho raiz foi companheiro e mensageiro. Lembro do dia em que o repórter Lucas Abati relatava a corrida dos moradores de Lajeado ao shopping para comprar mais pilhas.
É impossível mensurar quantas mensagens recebemos dizendo que somos companhia. Ainda neste ano, antes da enchente, encontrei um ouvinte que me agradeceu por estarmos no ar durante toda a pandemia, outro momento difícil que vivemos. Ele disse que eu não fazia ideia de como ajudamos a mantê-lo bem, já que morava sozinho e a Gaúcha era a sua companheira durante os meses mais complicados da Covid.
Essa semana procurei o Rafael Lindemann, o mago dos áudios da Gaúcha. Ele cuida do acervo e faz as vinhetas que estão no ar todos os dias. Além disso, é um apaixonado por rádio e pelo jornalismo. Perguntei qual era o áudio mais antigo que temos guardado. Temos alguns, a maioria a partir de 1962. Ele respondeu que havia um trecho do Programa Maurício Sirotsky Sobrinho, atração com música e auditório, dos anos 60. Mas havia uma relíquia de 1952, trazida por um ouvinte, em disco, para o Leandro Staudt, outro maluco por antiguidades e por História.
O conteúdo desse áudio, de quase dois minutos, é da reclamação de uma ouvinte sobre o leite que recebia em casa. Alice Meireles, que morava na rua Lucas de Oliveira, em Porto Alegre, levou a garrafa ao setor de jornalismo da então Rádio Sociedade Gaúcha, relatando inúmeros corpos estranhos, carrapatos e uma imundice. Talvez fosse a Leite Compen$ado de 70 anos atrás. O áudio, de tão antigo, é interrompido quando ela estava prestes a responder qual era o nome do leiteiro. O programa se chamava Comando Pioneira e as vozes eram de Aden Rossi e Aramis Brinckmann. A Gaúcha já se prestava a fazer serviço, mesmo com uma programação mista. Décadas depois, o foco passou para jornalismo geral e esporte, como segue até hoje.
Nesse ano, a Gaúcha foi de novo a voz de seus ouvintes. Além da enchente, esteve no front em dezenas de eventos, com o olhar gaúcho nos acontecimentos mais importantes do mundo. Guerras, eleições aqui e nos Estados Unidos, Olimpíada em Paris, futebol onde quer que seja. Essa guria vai longe, rumo aos 100 anos, contando novas histórias e emocionando, com uma equipe incrível e com ouvintes exigentes.