Era maio de 2022 e Porto Alegre recebia a edição do Campeonato Brasileiro Interclubes de ginástica artística - Troféu Brasil. No ginásio da Sogipa estavam nomes como Rebeca Andrade, Jade Barbosa e Flávia Saraiva. Claro que Rebeca era a grande atração e que todos os olhares estavam voltados para a campeã olímpica do salto, que meses depois se consagraria campeã mundial do individual geral. Mas uma ginasta com as cores de um clube gaúcho brilhou em sua primeira competição nacional adulta.
Ainda lembro de estar sentado na arquibancada, acompanhando os principais nomes da modalidade no Brasil e, claro, de estar atento a possíveis nomes que fugissem dos mais conhecidos. E foi na prova do salto que uma menina chamou atenção de todos já nas eliminatórias. Seu nome: Andreza de Lima, do Grêmio Náutico União.
Pois bem. Ela venceu o salto sobre a mesa e resolvi conversar com ela para saber mais da sua história. Ela me atendeu perto da quadra e me relatou como se sentia após vencer a final do aparelho e saber que dividia a competição com os principais nomes do esporte no país.
— É muito bom compartilhar a competição com elas. São nomes de expressão, principalmente a Rebeca, a Flávia, a Jade, ainda mais que é o meu primeiro Brasileiro adulto e estou muito feliz com os resultados — disse, com tímido sorriso.
No dia seguinte, 22 de maio, Andreza comemorou seus 15 anos com mais um ouro, desta vez no solo e com Daiane dos Santos, campeã mundial em 2003, a aplaudindo efusivamente. Após o pódio, conversei com Andreza mais uma vez e também falei com Daiane.
— Além das minhas medalhas, é meu aniversário. Foi um presentão e estou muito feliz. É muito bom ter a inspiração da Daiane (dos Santos), ela me passa uma energia muito boa e ainda é minha maior inspiração — falou a paraense Andreza, que veio ao lado da mãe, Flávia, para o Rio Grande do Sul a convite da técnica Adriana Alves, a mesma que esteve ao lado de Daiane nas suas principais conquistas.
Para fechar o dia, eu precisava reunir as duas. Com a ajuda de Cristiano Klein, companheiro de Flávia, trouxe Andreza para uma foto ao lado de Daiane, que projetou "15 anos de vida dentro do ginásio" para a atleta do União. Mas não foi só Daiane dos Santos que elogiou a atuação da atleta. Rebeca Andrade também exaltou a menina que estreava em competições adultas.
— A Andreza é uma atleta que tem muito talento, potencial. Ela tem que trabalhar muito para melhorar, assim como eu. Afinall, não adianta ter só talento. Tem de trabalhar em cima disso e a gente está vendo a melhora — disse Rebeca, que está entre os maiores nomes do esporte mundial.
Desde então, passei a acompanhar mais atentamente seus resultados e evolução. Várias medalhas vieram em competições nacionais e internacionais e a expectativa por estar em uma das principais equipes de ginástica do mundo em uma Olimpíada foi cada vez mais se tornando realidade.
A evolução veio e segue. Afinal, sempre temos que evoluir. Mas o sonho da menina que deixou o Pará, junto da mãe, para treinar em busca do maior objetivo de qualquer atleta, é realidade. Ela foi convocada para os Jogos de Paris. Ao lado de Carolyne Pedro, será uma das reservas da seleção brasileira, que terá Rebeca, Jade, Flávia, Julia Soares e Lorrane Oliveira.
Mas o sonho e a satisfação não são só de Andreza. Eles são de Flávia, de Cristiano, de Adriana e de tantos outros envolvidos na construção de uma atleta olímpica.