O debate seguirá por anos, talvez décadas. E com certeza aquilo que é sonho de muitos, onde me incluo, que é o de ver o Brasil se tornar uma potência olímpica, dificilmente será atingido. Mas é necessário seguir lutando, batalhando para que o brasileiro, seja ele torcedor, investidor ou jornalista, veja o esporte como algo muito além do futebol e até mesmo dos resultados.
Esta semana, o Comitê Brasileiro de Clubes, promoveu o Fórum Nacional de Formação Esportiva e entre os convidados alguns medalhistas olímpicos que, em determinados momentos, até mesmo ocuparam cargos políticos relacionados com o esporte e que viram de perto o outro lado da história. E um dos principais temas foi a formação.
E formar atleta não é apenas trabalhá-lo em categorias de base por alguns anos. É, detectar talentos, prospectando em escolas, universidades, algo que alguns países fazem com excelência, mas que o Brasil está bem distante de fazer.
E um dos maiores, senão o principal alerta sobre a forma como se vê o esporte no País, veio de Lars Grael, medalhista olímpico na Vela e que chegou a ocupar o cargo de Secretário Nacional de Esportes na segunda gestão de Fernando Henrique Cardoso.
— Uma nação olímpica não é necessariamente aquela que está encabeçando um quadro de medalhas em uma Olimpíada. É uma nação que é capaz de usar o esporte como transporte de valores para a sociedade. É o país que tem a capacidade de garantir o jovem na escola, de produzir merenda. É necessário a prática esportiva na escola. Nós, enquanto país olímpico, que sediou uma Olimpíada, precisamos ver o esporte de maneira mais ampla — disse o dono de dois bronzes, nos Jogos de Seul 1988 e de Atlanta 1996.
A fala de Lars é precisa ao citar que ser potência olímpica, não é apenas acumular pódios, mas, sim, saber usar estas conquistas como algo que possa contribuir para a população. Porque não adiante ser tricampeão mundial de futebol e "ter 70 milhões em ação", gritar "Pra Frente Brasil", se na verdade o caminho era inverso e se andava pra trás, aumentando ainda mais as distâncias entre os brasileiros.
Nem sempre ganhar no esporte é sinônimo de sucesso de um país, seja ele qual for. Os Estados Unidos não são a maior potência do planeta por serem os maiores vencedores de medalhas olímpicas, mas, sim, por serem uma nação forte economicamente e que também tem suas desigualdades, como todos aliás, mas que essencialmente busca de alguma forma usar o esporte como algo maior do que resumir o mundo a ganhar ou perder.