A história parece querer se repetir. A campanha de Bia Haddad Maia pode não ter grandes semelhanças com a de Gustavo Kuerten, que em 1997 surpreendeu o mundo ao ganhar Roland Garros sem ser sequer cogitado para chegar à segunda semana do torneio, afinal era apenas o 66º do mundo. A paulista já vinha chamando atenção do mundo do tênis por ter feito ótimas campanhas, com direito a dois títulos na grama, e por estar entre as 15 melhores do ranking desde outubro do ano passado.
Cabeça de chave nos três Grand Slam anteriores, Bia finalmente começa a mostrar um tênis de excelência em torneios deste nível. Em Roland Garros tem conseguido sair das adversidades e superar as rivais para seguir avançando e passar a ser apontada como uma das jogadoras mais temidas do circuito.
Após a vitória sobre a espanhola Sara Sorribes Tormo, nesta segunda, ela foi questionada pelo ex-tenista francês Fabrice Santoro sobre Gustavo Kuerten e afirmou que "Guga é meu ídolo, eu tinha apenas um ano quando ele ganhou o primeiro título". O fato é que não se pode comparar Bia a Guga ou até mesmo a Maria Esther Bueno, dona de 19 títulos de Grand Slam entre simples e duplas.
Nesta manhã de segunda, ao acordar cedo para acompanhar o jogo de Bia em Paris, recordei da entrevista que fiz com ela em julho de 2020, durante a pandemia. Na oportunidade ela projetou o futuro e comentou sobre o caso de doping por conta de uma contaminação involuntária feita através de um componente multivitamínico para complementar dieta e exercícios, que ela estava tomando e que havia sido prescrito por um médico. Sem poder atuar, ela caiu para a posição de número 1.342 no ranking mundial.
O episódio até hoje ainda atormenta a paulista, que em nossa conversa disse que a carta da Federação Internacional de Tênis informando sua suspensão "ainda está no e-mail. Nunca consegui terminar desde que eu soube do assunto. Eu falei com os advogados e não tinha muito o que fazer. Eu estava num momento positivo (top 100), foi um tapa na cara, um susto. Infelizmente aconteceu e eu aprendi muito, inclusive a ser mais forte e até a lidar com a pandemia de outra forma. Tudo isso foi doloroso, mas que fez me refletir, assim como algumas lesões que me fizeram parar e dar uns passos para trás e retornar nessa jornada (carreira)".
Em 2022, Bia mostrou ao mundo todo seu potencial e em agosto, aqui na coluna, fiz a projeção de que ela seria Top-10. Falta um jogo. Pode ser na próxima quarta-feira. E aquela carta poderá ser finalmente lida. Allez, Bia!