O tênis feminino do Brasil voltou a ter uma jogadora nas quartas de final de um Grand Slam depois de 55 anos. A responsável por quebrar o tabu é a paulista Beatriz Haddad Maia, que nesta segunda-feira (5) derrotou a espanhola Sara Sorribes Tormo, de virada, por 2 sets a 1, parciais de 6/7 (3), 6/4 e 7/5, após uma longa batalha de 3h51min na quadra Suzanne-Lenglen, a segunda do complexo de Roland Garros.
Com o triunfo, a tenista de 27 anos igualou os resultados de Maria Esther Bueno, que em 1968 disputou as quartas de final em Paris, em Wimbledon e nos Estados Unidos. Apontada como uma das maiores da história, Maria Esther acumulou ao longo da carreira sete títulos de simples, 11 de duplas e um de duplas mistas em torneios deste porte.
O resultado aproxima Bia de ingressar no top 10 do ranking mundial. Para que isso ocorra, ela precisa vencer seu confronto de quartas de final diante da tunisiana Ons Jabeur, que eliminou a americana Bernarda Pera por 2 a 0, parciais de 6/3 e 6/1, e que já realiza a melhor campanha da carreira no saibro francês. Número 7 do mundo, ela foi vice-campeã em Wimbledon e no Aberto dos Estados Unidos do ano passado.
A partida contra Sara Sorribes Tormo foi de muita resistência. No set inicial, Bia conquistou duas quebras de saque no terceiro e sétimo games e sacou em 5-2. Mas foi a partir desse momento que o domínio das ações mudou de lado e a espanhola devolveu os dois break points no oitavo e décimo games.
A brasileira ainda conseguiu nova quebra de serviço para ter nova mais um chance de sacar e fechar a parcial. Devolvendo todas as bolas possíveis, a ex-número 32 do mundo acabou quebrando a paulista e fez um tie-break mais consistente para fechar em 7-3, após 74 minutos de set, em que Bia cometeu 19 erros não forçados contra nove da espanhola.
Embalada pela vitória no set anterior, Sara Sorribes Tormo abriu 3-0 na segunda parcial, com quebras no primeiro e terceiro games. Nesse momento, um fato chamou atenção. Bia falou em voz baixa "ainda tem muito jogo". E realmente a 14ª melhor do ranking da WTA tinha razão. Ela encontrou como encarar a correria de fundo de quadra da espanhola, que devolvia quase todas as bolas altas e no meio da quadra. De maneira impressionante, a brasileira ganhou seis games seguidos e marcou 6-3, com 24 bolas vencedoras (winners) contra 11 da europeia.
O jogo parecia ter mudado de lado, quando iniciou o terceiro set e Bia quebrou o saque da espanhola e fez 1-0. Porém, a brasileira cometeu alguns erros e acabou tendo o serviço quebrado. A paulista ainda conquistou novo break em 3-2 e chegou a sacar para fechar a partida no 10º game, mas desperdiçou três match points e viu a espanhola empatar em 5-5. Apesar da dificuldade, Bia conseguiu manter os nervos no lugar e fazer um excelente game de devolução para marcar 6-5 em novo break e sacar para fechar a partida e se colocar entre as oito melhores do torneio.
Ainda em quadra, entrevistada pelo ex-tenista francês Fabrice Santoto, a brasileira comentou alguns pontos do jogo.
— Queria agradecer a presença de todos. Foi um dia especial para todos os brasileiros. É um grande torneio, com grandes jogadoras. Atuei no meu limite, não desisti nunca. Meu técnico (Rafael Paciaroni) falou antes do jogo sobre uma entrevista do Djokovic, em que ele disse que fica nervoso. Então quem sou eu para não sentir. Mas o importante foi que não desisti nunca — disse Bia, que terminou o jogo com 30 winners a mais (65 a 35) e cometeu 34 erros não forçados a mais (65 a 31) do que a espanhola.
Agora, Bia terá um desafio ainda maior diante de Jabeur, que venceu os dois duelos disputados entre elas, o último em abril deste ano, em Stuttgart.