Uma mulher excepcional. Essa é Maria Isabel Barroso Salgado Alencar. Sim, porque Isabel não pode ficar no passado. A craque das quadras e da vida, que nos deixou nesta madrugada de quarta-feira (16), aos 62 anos foi uma pessoa à frente de seu tempo.
As cortadas certeiras dentro das quadras, que a caracterizaram como uma das principais jogadoras de vôlei do mundo na década de 1980, carregavam bem mais que a potência para definir um ponto, ainda no tempo em que o vôlei tinha a rotação. Na verdade, ali estava a marca de uma mulher vencedora, lutadora e pioneira.
Num Brasil ainda dominado pelo Regime Militar, Isabel lutava pelo direito das mulheres e tinha ao seu lado, por exemplo, Jaqueline, outra batalhadora e ícone de uma geração que foi precursora para muitas conquistas das mulheres brasileiras.
Se hoje em dia, o grito "Fora Bolsonaro" de sua filha e craque de vôlei de praia, Carol Solberg, despertou atenção e ira de parte da sociedade e de dirigentes, quem acompanhou a carreira de Isabel ou conviveu com ela sabe como foi vê-la jogando grávida até os seis meses de gestação e, depois de dar à luz, ser cortada da seleção brasileira por ter se atrasado para um treino, em função de estar amamentando uma de suas filhas, Pilar. Mas isso não a fez desistir e ela seguiu lutando pelo direito de ser mãe e atleta.
Isabel era assim. Se fosse necessário enfrentar o poder vigente na Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) ela fazia com a mesma determinação com a qual defendeu o Brasil em duas edições dos Jogos Olímpicos, 1980 em Moscou e 1984 em Los Angeles, ganhou uma medalha de bronze em Jogos Pan-Americanos em 1979, em Porto Rico, e venceu alguns campeonatos e torneios internacionais. Num tempo de "esporte amador", ela foi a primeira atleta mulher a jogar no Exterior, de forma profissional.
Isabel foi mãe de três atletas de vôlei de praia, sendo que dois deles, Carol e Pedro Solberg ainda estão em atividade, e Maria Clara, já aposentada, mas que por muitos anos brilhou ao lado da irmã, inclusive treinadas por ela. Isabel foi a mulher que venceu diversos bloqueios, dentro e fora das quadras. Foi chamada de "musa" e capitalizou o título para dar visibilidade ao esporte e seguir na batalha por melhores condições, por mais respeito.
Isabel era estrela, mas se comportava como parte da constelação porque sabia que era necessário o coletivo para ter sucesso. E era isso que ela levaria para o grupo técnico de transição do Esporte do Governo Lula, para o qual fora nomeada no começo da semana, quando já dava os primeiros sinais do problema de saúde que a vitimou.
Isabel deixará uma lacuna por tudo que defendia. Claro que o maior sentimento ficará com seus cinco filhos e netos, com amigos e familiares. Mas o Brasil e o esporte sentirão falta de Isabel e sua determinação e coragem.