A seleção brasileira masculina de vôlei entra no Campeonato Mundial, que começa nesta sexta-feira (26), com um status diferente do que ocupou nas duas últimas décadas. Tricampeão olímpico e mundial, o Brasil vive um difícil processo de transição.
Na década de 1980, quando o esporte ganhou o noticiário e passou a arrastar multidões, tínhamos nomes como William, Renan e Bernard, apontados entre os melhores do mundo. Na virada para os anos 1990, Marcelo Negrão, Tande, Giovane, Maurício, Carlão e Paulão formaram um time de sonhos que levou o ouro nos Jogos de Barcelona.
Em nova troca de gerações, vieram Nalbert, Ricardinho, Giba, Dante, André Nascimento e os irmãos Endres, Murilo e Gustavo, além do brilhante líbero Serginho Escadinha. Aos poucos, esta turma foi saindo de cena para as entradas de Bruninho, Lucão, Lucarelli e Wallace.
Mas a pergunta do momento é: e agora quem são os sucessores? Candidatos até existem, como Fernando Cachopa e os irmãos Darlan e Alan, este atualmente lesionado e já com 28 anos.
Mas aí surge uma nova dúvida: eles têm potencial de protagonistas como foram os já citados nas décadas vencedoras ou são ótimos complementos como foram Xandó e Montanaro na Geração de Prata, Talmo e Pampa no time campeão em Barcelona, André Heller, Anderson, Rodrigão e Lipe nos anos sob o comando de Bernardinho?
Apesar de ainda ter uma liga forte, o Brasil tem tido dificuldades nessa renovação e hoje já não conta com um protagonista no cenário internacional. Até por isso ainda depende de Lucarelli, que vem convivendo com muitas lesões, e de um retorno de Wallace, que aos 36 anos, atendeu o chamado de Renan Dal Zotto para suprir a carência na posição de oposto.
E alguns resultados dão conta desta alerta. Por exemplo, nas seis últimas edições do Sul-Americano sub-19, a Argentina ficou com quatro títulos contra dois do Brasil. No mundial desta mesma categoria, a seleção brasileira não figura entre as quatro melhores desde 2006, o que equivale as oito últimas edições do torneio.
No sub-21, depois de ganharmos 10 medalhas em 11 eventos mundiais entre 1989 e 2009, com quatro títulos em oito finais, só conquistamos duas medalhas (uma prata e um bronze) nos últimos seis campeonatos. No mesmo período, a Rússia ganhou três títulos em quatro decisões, a Argentina fez duas finais, assim como Polônia e Itália.
O retrospecto na base começa a ter reflexos. Os rivais estão crescendo cada vez mais, enquanto o Brasil nos dois últimos grandes eventos ficou fora do pódio: quarto lugar nos Jogos de Tóquio perdendo para a Argentina e eliminação nas quartas de final da Liga das Nações, para os Estados Unidos.
A renovação preocupa e o atual ciclo olímpico também, até porque novos critérios de classificação foram adotados pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB) e pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para os Jogos de Paris em 2024.