O Brasil tem um novo campeão do mundo. No final da noite passada e início da madrugada desta quarta-feira (20), em Eugene, no estado americano do Oregon, Alison dos Santos faturou a medalha de ouro no Mundial de Atletismo.
A conquista é gigantesca e para se ter ideia é apenas a segunda vez que um brasileiro é campeão mundial de atletismo. Vale lembrar que o evento foi criado em 1983, mas dede então nem os campeões olímpicos Joaquim Cruz, Maurren Maggi e Thiago Braz, por exemplo, conseguiram tal feito. A única medalha até hoje era de Fabiana Murer, ouro no salto com vara em 2011.
Mas vamos falar do fenômeno que é Alison dos Santos. Invicto na temporada e bronze nos Jogos Olímpicos de Tóquio no ano passado, o paulista é daqueles atletas que cresce no momento certo e que sempre melhora suas marcas quando necessário. Isso, por si só, já uma sinalização de que é diferente.
No mundo esportivo, o grande atleta é aquele que na hora decisiva se sobressai, que faz coisas que os demais não conseguem. E Alison é um desses. Os 46s29 feitos por ele na final dos 400m com barreiras, além de ser um novo recorde da história do campeonato o deixa cada vez mais perto de quebrar o recorde mundial de 45s94 feitos por Karsten Warholm na final olímpica em 2021. E ele irá derrubar essa marca, podem ter certeza. E não sou apenas eu que estou dizendo isso, é o próprio Alison, que ontem garantiu que "não se trata de perguntar se é possível (quebrar o recorde), mas sim quando será".
Piu como é chamado no meio do atletismo é daquelas figuras que conquista a todos pela simpatia. Afinal, quem já é vitorioso antes mesmo de completar um ano de idade só pode ser uma pessoa fora da curva. Para quem não sabe, aos 10 meses de idade, ele sofreu um grave acidente doméstico. Uma panela de óleo quente caiu sobre ele e seu primeiro ano de vida foi comemorado ainda no Hospital do Câncer de Barretos, no interior paulista.
Após vencer essa primeira batalha que o deixou com cicatrizes visíveis até hoje, Alison precisou conviver com os traumas que isso lhe trouxe. Tímido, usou bonés por muito tempo para esconder as marcas do acidente e chegou a correr usando uma touca. Mas como um grande vencedor, ele foi superando essas barreiras e com o tempo, sempre seu aliado, foi passando por essas etapas até chegar ao brilho e correr para "se tornar uma lenda", como ele mesmo falou após a vitória no estádio mais tradicional do atletismo mundial.
Alison dos Santos é mais uma daquelas histórias de atleta brasileiro que supera diversas dificuldades, desde a origem humilde até outros tantos problemas que aparecem até a chegada do esporte em suas vidas. E geralmente é algo transformador.
Mesmo que Piu tenha recusado o primeiro convite para conhecer o projeto social liderado pelo ex-atleta olímpico Édson Luciano, prata em Atlanta-1996 e bronze em Sydney-2000 no revezamento 4x100m, por conta da timidez, aquele garoto de 14 anos teve ali um início, já que dias depois foi ao local na pequena São João da Barra e pelas mãos da professora Ana Fidélis, que foi sua primeira treinadora, começou a reescrever sua história.
Aqui estão unidos, projeto social, uma professora e ex-atleta e um jovem de origem humilde. Uma combinação que no Brasil pode não ser bem vista. Mas o esporte tem esse poder de transformar, de dar conhecimento, de ampliar horizontes. E ter uma cultura esportiva é fundamental e ainda caminhamos para chegar lá. Mas acreditem. O ESPORTE É UMA PODEROSA ARMA de mudança.