O skate brasileiro ganhou proporções gigantescas com os Jogos Olímpicos de Tóquio e as três medalhas de prata conquistadas por Pedro Barros (park), Kelvin Hoefler (street) e Rayssa Leal (street). A exposição midiática para a modalidade a transformou em uma das febres e alçou adolescentes e jovens ao estrelato.
E, nessa batida, o esporte que era visto por muitos como uma diversão de final de semana passou a ser encarado como uma profissão, como tantos outros. O selo de estar no programa olímpico foi decisivo para que o skate atingisse outras tribos.
Um dos grandes nomes e apostas para o futuro é um cearense com grande ligação com Porto Alegre. Trata-se de Lucas Rabelo, nascido no bairro do Pirambú, em Fortaleza, uma região pobre e que segundo o IBGE é a terceira maior favela do Nordeste e a sétima do país.
Ele é daqueles prodígios que ostentam a condição de medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos Júnior, realizados em Cali, na Colômbia, em 2021. Em novembro do mesmo ano, Lucas sagrou-se vice-campeão mundial na Super Crown de Jacksonville, nos Estados Unidos, última etapa da Street League Skate (SLS), que reuniu os vencedores de todas as etapas anteriores da competição.
A história de Lucas teve início em sua cidade, mas ainda na adolescência um convite para vir a Porto Alegre mudaria sua trajetória e transformaria sua carreira. Em entrevista ao Gaúcha 2024, da Rádio Gaúcha, ele contou um pouco dessa ligação entre Nordeste e Sul.
— Comecei em Fortaleza, por diversão, e um amigo meu conhecia um skatista profissional (César Gordo) aqui do Rio Grande do Sul. Ele me apresentou pra ele, que me falou que vir pra cá seria oportunidade de mostrar o meu skate, que aqui a cena era avançada e tinha pistas melhores. Decidi com minha família que viria aqui conhecer — relata Lucas, que atualmente se recupera de uma cirurgia no pé esquerdo e faz todo o tratamento em Porto Alegre.
Mas para um adolescente de seus 12, 13 anos, deixar sua cidade natal, atravessar o Brasil e ainda encarar o frio, a tarefa não foi nada fácil.
— Mas na primeira vez não gostei, não me senti bem. Nasci em Fortaleza, um calor absurdo, eu vim pra cá estava frio. Sempre fui apegado a minha avó, então por essas e outras voltei pra Fortaleza, fiquei uns dois meses lá e quando voltei pro Rio Grande do Sul de novo, foi outra situação. Conheci meu empresário (Rafael Xavier) e fui morar com ele, que me incluiu na família, e isso me fez sentir mais confortável. Sempre fui muito bem recebido aqui, fiz amizades e decidi ficar — conta o jovem de 22 anos, que lembra que o plano inicial era que ele morasse no Sul um período de seis meses e depois fosse visitar seus familiares no Ceará.
As conquistas da temporada passada e o título no STU Street de Criciúma, primeira etapa do circuito nacional de skate, nesse momento estão de lado por conta do período de recuperação. Porém, elas não desanimam o skatista cearense.
— É triste para quem é atleta, que está acostumado a viajar e competir. Mas me sinto grato por ter pessoas como o Anderson (Dorneles), meu fisioterapeuta, a equipe da Care Club (onde realiza o tratamento), patrocinadores, familiares e eles acreditam que vou voltar mais forte. Não é uma lesão que vai me fazer desistir de meus objetivos afirma o atleta que tem vaga assegurada nos Jogos Pan-Americanos de Santiago em 2023.
E o principal objetivo é participar dos Jogos Olímpicos de Paris em 2024. Mas antes, Lucas Rabelo precisa voltar às pistas.
— Sem dúvida. É bom pensar na frente, mas eu quero ir degrau por degrau. Fase de recuperação agora, depois voltar a andar de skate, sentir meu skate, voltar a participar. O Pan-Americano Júnior eu venci e me garantiu uma vaga no Pan de (Santiago) 2023 e eu vou tentar estar 100% pra trazer um bom resultado— garante.
Aliás, a experiência de ter participado dos Jogos Pan-Americanos Júnior e ver seus amigos disputando os Jogos Olímpicos também deram um novo significado para seus propósitos na modalidade.
— É incrível demais e eu assistia documentários que falavam de Olimpíadas, mas eu não tinha noção do peso que seria. Pro skate foi a primeira vez e depois que aconteceu eu vi que algo incrível e que obviamente é um sonho estar lá representando o Brasil, junto com ídolos, pessoas de outros esportes, que fizeram muito coisa. É incrível e quero chegar lá— diz, antes de iniciar uma nova sessão de fisioterapia.