Quando a guriazinha Raquel, que vivia na roça, no interior de Santa Catarina, revelou aos pais o desejo de ser atleta, iniciou-se um esforço familiar para realizar o sonho. Horas na garupa da bicicleta até chegar ao ginásio no centro da cidade era um dos muitos esforços em busca do objetivo, que, na época, era de ser jogadora de futebol.
— Futebol é só o que a gente tem acesso, então foi o caminho que eu imaginei — explicou Raquel.
Passou a viver em Caxias do Sul para poder jogar pelo Juventude, mas aí descobriu que existia uma outra bola, oval, que talvez fizesse mais sentido para ela.
Os valores do rugby encantaram Raquel inicialmente, com o tempo ela foi se descobrindo uma atleta apta para a modalidade, boa. E hoje, em Paris, se prepara para sua terceira Olimpíada.
Raquel ter sido escolhida porta-bandeira do Brasil indica várias camadas de representatividade. Primeiro, o fato de ela ser mulher, em uma Olimpíada em que pela primeira vez na história elas superam o número de homens na delegação brasileira. Ou seja, se a Raquel pode, todas nós, mulheres, podemos.
Ter Raquel como porta-bandeira também é representativo pelo fato de que o esporte que ela pratica não é uma modalidade muito reconhecida. Inclusive a própria atleta vê como uma oportunidade de divulgação do rugby a posição para a qual foi escolhida. Ou seja: se a Raquel está lá, todos os praticantes do rugby estão lá.
É representativo, ainda, tê-la nessa posição porque Raquel ainda não conquistou nenhuma medalha olímpica.
— Eu levei um susto quando fui chamada, porque imaginei que seria alguém que já tivesse vencido — contou. Mas não.
Nem sempre vencer é o que representa a maioria. Ou seja, se a Raquel está lá, o esforço, a batalha, a caminhada, é valorizada.
No caminho da Raquel ainda houve o enfrentamento à um câncer de mama. O tratamento com quimio e radioterapia acabou no último ano do ciclo olímpico. Ela voltou a competir em dezembro de 2023 e nesse julho de 2024 estará lá abrindo os caminhos para o time brasileiro com a nossa bandeira na mão. Ou seja, para tantos que passam por essa situação tão delicada de saúde, se a Raquel conseguiu, vocês também podem conseguir.
Há muitos anos, a guriazinha do interior de Santa Catarina sabia que queria ser atleta porque viu um jogador de futebol na televisão.
Nessa sexta-feira (26), estamos vendo uma atleta mulher, de um esporte desconhecido, que não ganhou uma medalha olímpica e que superou o câncer, à frente do time do Brasil nas Olimpíadas.
Quantas pessoas podem se enxergar em Raquel e se inspirarem nela? Raquel segura uma bandeira e carrega muita gente com ela.