Quando o porto-alegrense Felipe Henkin apresentou o projeto, desenhado por ele, para um grupo de trabalhadores no Catar, gerou um murmurinho. Não entendiam do que se tratava, nunca tinham feito nada igual. Tijolos empilhados com um buraco no meio e uma espécie de chaminé em cima. O sol forte tornava o trabalho ainda mais pesado no pátio da casa em um condomínio do bairro residencial de Doha. Mas o grupo não desistia. Entenderam que era algo muito importante para o contratante. Tomando seu mate e supervisionando a obra, Felipe sorria. Certamente pensando: "Ah, se eles soubessem o sabor de um bom churrasco".
Uma das únicas churrasqueiras do país da Copa fez a casa onde o Felipe mora com a esposa Zilda, que é mineira, e os filhos João Pedro e Maria Luiza receber o apelido de CTG. Virou um ponto de encontro de gaúchos. Os mais frequentes são vizinhos. Da casa ao lado, Gustavo Müller e Patrícia, junto com os filhos Henrique, Gustavo e Isabella, sentem o cheirinho do assado e já chegam com uma saladinha de tomate e cebola. Também prepararam um pudim de leite e brigadeiros para a sobremesa. O encontro brasileiro e gaúcho tem um toque local: o pão árabe com pastinhas e doces com pistache acompanhados de um chá. Mistura de quem já é praticamente local. Os Henkin vivem em Doha há 10 anos. Os Müller, há 17.
Felipe e Gustavo são pilotos da Qatar Airways, e a oportunidade de trabalho fez com quem optassem por morar na cidade no Oriente Médio. Chegaram quando tudo era praticamente deserto. Precisavam superar o desafio de se localizar com as placas todas escritas em árabe e se acostumar com uma cultura absolutamente diferente.
Viram a cidade se transformar ao longo dos anos.
— Passávamos pelas ruas e ficávamos impressionados com os prédios que eram erguidos em meses — contou Patrícia.
Uma aceleração impressionante por conta da Copa, que eles veem como positiva. Além de trazer mais abertura com relação aos costumes, a Copa trouxe vida à Doha, dizem.
— É difícil ver pessoas andando a pé na rua, quase todo mundo anda de carro sempre. Durante este mês do Mundial, a cidade está movimentada — afirmou Patrícia.
As duas famílias acompanharam os jogos e curtiram muito a presença dos brasileiros. Durante o período da Copa, todas as escolas fizeram férias, então os pequenos também aproveitaram. Mesmo se atrapalhando com o português, por estudarem em escola internacionais e falarem apenas o inglês no dia a dia fora de casa, são apaixonados pelo futebol brasileiro e pela dupla Gre-Nal. A família Henkin é colorada, a Müller, gremista: está feito o clássico.
Fãs da Rádio Gaúcha, é por meio dela que eles acompanham seus times do coração, sempre na companhia de um bom assado, claro. Acharam um fornecedor de carnes do Brasil, mas os cortes encontrados com mais facilidade são os australianos. Com costela e picanha, a churrasqueira do CTG em Doha é de dar inveja a muitas no Rio Grande do Sul. Olhando para a carne, fiquei pensando no quanto o grupo que construiu adoraria ter comido aquele churras.