No momento atual, de 45ª Expointer e de desenho da próxima safra de verão, a importância do crédito rural se torna evidente. Seja para o produtor conseguir comprar sementes, máquinas ou outras tecnologias para aprimorar o seu trabalho. O problema é que nos últimos meses houve uma série de turbulências que acabou atrasando os investimentos de muitos deles. E esse foi o tema do segundo dia do Campo em Debate, no estande do Banrisul no parque Assis Brasil, em Esteio.
Um dos protagonistas do crédito rural no Rio Grande do Sul é o Banrisul. Apesar do atual cobertor curto de recursos do governo federal para o agronegócio, o banco lançou neste ano um Plano Safra com R$ 7 bilhões para custeio e financiamento do ciclo 2022/2023 no Estado.
— Nosso desafio era atender o pequeno, o médio e o grande produtor. Queríamos ajudar o nosso cliente em tudo o que ele precisasse — justifica a superintendente da unidade de Agronegócio do Banrisul, Andréia Araújo.
Desses R$ 7 bilhões disponibilizados, R$ 6,1 bilhões são para custeio (o que coloca a lavoura em pé, a partir de compras de insumos) e outros R$ 900 milhões para investimentos (tecnologia, como máquinas). De acordo com o diretor de Crédito do Banrisul, Osvaldo Lobo Pires, o banco espera que metade já seja utilizada nesta Expointer:
— Mas estamos otimistas que a chance é superar esse número — acrescenta.
Diretora de Crédito Rural da Agroplan, em Uruguaiana (RS), Mônia de Almeida Schluter é uma entre centenas de profissionais que estão na ponta. Ela explica por que iniciativas como a do Banrisul são importantes:
— Quando saiu o Plano Safra, todos nós estávamos esperançosos com a chegada do recurso que esse ano foi escasso. Mas foi um banho de água fria. Ficou parado por muito tempo. Agora, com esse anúncio (de R$ 7 bilhões), os produtores estão podendo montar a sua produção.
Segundo Mônia, no momento, a maior procura por crédito rural para custeio é para aumentar a área. Já para investimento, é voltada à instalação de tecnologias fotovoltaicas e sistemas de irrigação, em razão das últimas estiagens que prejudicaram a produção do Estado.
Puxando para a Expointer, o assessor do Departamento de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS) Kaliton Prestes exemplifica a importância do crédito rural pelo pavilhão da agricultura familiar:
— Esses recursos ajudam a fazer a revolução em todo o campo. Hoje, no pavilhão, é possível encontrar produtos gourmet, premiados internacionalmente. E o crédito rural tem tudo a ver com isso — afirma.
Benefícios vistos na prática
Além de produzir mais e melhor, o dirigente cita como benefícios do crédito rural a aquisição de novas tecnologias para diminuir a penosidade do trabalho, oferecer mais qualidade de vida e fazer com que os produtores tenham vontade de permanecer na propriedade para continuar produzindo alimentos.
É o que aconteceu em Maçambará, na Fronteira Oeste, e em Nova Pádua, na Serra, com as famílias Wenning e Marostica. No caso do município da Fronteira Oeste, o investimento em tecnologia feito na propriedade, que trabalha com grãos e gado bovino, possibilitou que a filha Jéssica permanecesse no campo.
— Também levei em conta a maior qualidade de vida que se tem no meio rural. Com o investimento dos meus pais, decidi fazer faculdade de administração — explica ela, que hoje trabalha na parte financeira da empresa.
Mas a mãe, Giseli Wenning, conta que não foi simples essa divisão de tarefas com a juventude da família.
— Como pais, nós percebemos que precisávamos nos atualizar para manter nossos filhos no campo. Mas eles também têm ansiedade de fazer as coisas. Então, a gente tem que largar o cordão e puxar, caso necessário — reconhece, afirmando que, no caso da família, foram necessárias reuniões familiares e apoio psicológico para tocar a empresa em conjunto.
Já no caso do município da Serra, foi com a criação da L’Onore Destilados que esse movimento aconteceu. Hoje, a empresa familiar produz destilados a partir de 175 mil quilos de uva, ameixa, pêssego, kiwi e caqui por ano. Mas nem sempre foi assim.
— Meu pai e meu avô sofreram bastante, trabalhavam em lavoura e era praticamente tudo braçal. E meu jeito de trabalhar era assim também — lembra Valdir Marostica.
A partir da profissionalização do filho Anderson, resolveram tocar o negócio:
— Meus pais deixaram a gente arriscar. E conseguimos dar continuidade às receitas do nonno.
O destilado dos Marostica está sendo comercializado na banca 37 do pavilhão da agricultura familiar nesta Expointer, até dia 4 de setembro.
*Produção de Carolina Pastl