Dono de uma propriedade de 80 hectares em Selbach, no norte do Rio Grande do Sul, o agricultor Pedro Mathias Kuhn vê sua safra se esvair pela falta de chuva neste ano. A colheita do milho, já concluída, não rendeu mais de 40 sacas por hectare em locais onde já se obteve até 250 sacas. Na soja, que será colhida nas próximas semanas, o estrago na produtividade é tido como certo.
Em meio às dificuldades causadas pela estiagem, Kuhn decidiu ir nesta quinta-feira (3) à Expodireto-Cotrijal, em Não-Me-Toque, disposto a tirar do papel um plano adiado constantemente: investir em irrigação.
— Há uns sete anos tinha decidido colocar irrigação, mas acabei não fazendo. Hoje, a água faz falta e, por isso, é o meu foco investir nos pivôs — explica Kuhn, que deve aportar R$ 700 mil para implementar o sistema em 40 hectares.
Casos como o de Kuhn se tornaram corriqueiros nesta edição do evento. No ano em que a estiagem castiga as lavouras, produtores gaúchos têm se mostrado menos dispostos a investir em máquinas, como colheitadeiras e tratores. No entanto, a procura por soluções de irrigação está em alta.
— Ficamos muitos anos sem falar em seca e estiagem. Quando o problema aparece, o agricultor que estava com a ideia da irrigação adormecida acaba despertando. Certamente as vendas de pivôs serão maiores neste ano — destaca Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul (Simers).
Entre as empresas que trabalham com fabricação e instalação de sistemas de irrigação, a movimentação no parque até esta quinta-feira era comemorada. Estandes das marcas, que em anos anteriores podiam passar sem serem notados, agora se tornaram parada obrigatória para muitos produtores.
O gerente de vendas da Valley, Vinicius Melo, calcula que, nos primeiros três dias de feira, em torno de 500 agricultores já buscaram informações sobre pivôs. No mesmo período da Expodireto do ano passado, ele estima que não havia mais de 50 interessados. Melo credita a procura intensa ao momento de estiagem vivido no Estado.
— Nos primeiros três dias já fechamos mais negócios do que na edição passada. Esperamos neste ano quintuplicar o volume de vendas — ressalta o gerente.
O custo médio para a implantação do sistema fica em R$ 9 mil por hectare. Neste sentido, a procura acaba sendo puxada principalmente por produtores de médio porte, focados em soja e milho. Há também agricultores que já possuem parte da área irrigada, que passaram a analisar a possibilidade de ampliar o uso da tecnologia nas lavouras.
— Esse produtor já sabe a diferença que a irrigação pode fazer e acaba decidindo ampliar a área com pivôs — aponta Bruno Rauber, gerente de negócios da Fockink.
Rauber estima que a procura, nos primeiros dias de feira, dobrou em comparação com 2019. A expectativa da Fockink é aumentar em torno de 60% o volume de negócios frente à edição anterior.
Fabricantes de máquinas reveem projeções de negócios
Principal responsável pelos negócios realizados na Expodireto-Cotrijal, o setor de máquinas agrícolas deve ser impactado diretamente pela postura cautelosa adotada pelos produtores nesta safra. O Simers considera viável alcançar o mesmo volume de vendas da edição de 2019, mas algumas empresas já começaram a rever projeções.
No ano passado, o volume de financiamentos encaminhados por instituições financeiras nos cinco dias de Expodireto chegou a R$ 1,9 bilhão, enquanto o faturamento total da feira atingiu R$ 2,4 bilhões.
O diretor de mercado da New Holland no Brasil, Eduardo Kerbauy, reconhece que a estiagem prejudica os negócios no Rio Grande do Sul. Para o dirigente, a perspectiva de que a quebra na soja supere os 16% estimados até o momento, em função da falta de previsão de chuva nos próximos dias, deixa o agricultor inseguro para investir.
— Neste cenário, o agricultor entra em modo de segurança e posterga a decisão de investimento. Com isso, sentimos uma retraída no volume de pedidos — diz Kerbauy, ressaltando que a meta é chegar aos mesmos números de 2019.
Para a John Deere, igualar números do ano passado também se tornou o objetivo a ser atingido. Diretor de concessionária da marca para o norte do Rio Grande do Sul, Anderson Strada lembra que inicialmente a empresa esperava aumento de 15% nas vendas na Expodireto. Com o avanço da estiagem, a projeção foi revisada.
— A Expodireto representa 60% das nossas vendas no ano. Tínhamos objetivo de crescimento, mas dentro do contexto atual, manter o volume do ano passado é uma vitória - afirma Strada.