Colaborou Leticia Szczesny
À base de soja, ervilha, grão-de-bico ou beterraba, os hambúrgueres de vegetais começam a ocupar espaço no varejo e em fast foods no Brasil. Criada para ter cor e sabor semelhante ao bovino, a novidade chega ao mercado dividindo opiniões. Enquanto alguns optam pelo alimento para diminuir o consumo de proteína animal, outros criticam a imitação de carne.
A nova categoria de produtos atrai grandes e pequenas empresas e cria oportunidade de negócios. De olho em vegetarianos, veganos e flexitarians, a Fazenda Futuro, do Rio de Janeiro, lançada em abril, tem como carro-chefe o hambúrguer. A base é ervilha, soja e grão-de-bico, além de beterraba para coloração. O produto está em mais de 4 mil pontos de venda e em cerca de 1,2 mil restaurantes do país. No Rio Grande do Sul, é comercializado na rede Zaffari.
— Há um cuidado para reproduzir versão com valor nutricional muito próximo ao da carne vermelha, com a mesma quantidade de proteína, com menos gordura — explica Marcos Leta, fundador do negócio ao lado do sócio Alfredo Strechinsky, detalhando que, neste mês, a foodtech lançará carne moída à base de vegetais.
Em julho, a empresa com unidade em Volta Redonda (RJ) recebeu o primeiro aporte financeiro externo de US$ 8,5 milhões. Hoje, a Fazenda Futuro é avaliada em US$ 100 milhões. Nas próximas semanas, passará a exportar com a marca Hacienda Futuro para Uruguai e Paraguai e, na sequência, para o México.
O interesse de investidores não poupou críticas. Em sua conta no Twitter, a chef de cozinha Paola Carosella, que experimentou um hambúrguer vegetal, destacou o fato de ser ultraprocessado: “Se você quer coisas com sabor carne, coma carne. Se quer comer plantas, coma plantas com gosto de plantas. E se quer parar ou diminuir o consumo de carne, o universo vegetal é gigantesco”.
Inovação das grandes
Uma das líderes globais em carne bovina e maior produtora de hambúrguer do mundo, a Marfrig Global Foods anunciou, em agosto, parceria com a americana Archer Daniels Midland Company para o desenvolvimento de versão vegetal, à base de soja. O ingrediente já faz parte de receita de um dos sanduíches da Burguer King em São Paulo e deve chegar a todas as unidades da rede de fast food no país neste mês.
Segundo o presidente da operação América do Sul da Marfrig Global Foods, Miguel Gularte, o objetivo é oferecer aos consumidores novas opções:
Se hambúrguer representa algo importante no faturamento e uma parcela da população sinaliza que quer inovar e trocar hábitos, a indústria imediatamente dá a resposta para não perder faturamento nessa linha de produtos.
ROBERTO GRECELLÉ
Especialista em mercado de carnes
— Não temos nenhuma pretensão de substituir a carne bovina.
Para Roberto Grecellé, especialista em mercado de carnes, a iniciativa é esperada para uma empresa que não quer perder fatia de mercado:
— Se hambúrguer representa algo importante no faturamento e uma parcela da população sinaliza que quer inovar e trocar hábitos, a indústria imediatamente dá a resposta para não perder faturamento nessa linha de produtos.
O alimento produzido pela Marfrig na unidade de Várzea Grande (MT) deve ser exportado até o fim do ano. Estão na mira da indústria países como Japão, China, Estados Unidos, Uruguai, Argentina e Chile. A empresa também pretende comercializar o produto no varejo e está trabalhando no desenvolvimento de novos alimentos veganos.
Impactos na pecuária tradicional
Os pecuaristas não devem ser prejudicados com a chegada de alimentos à base de vegetais, segundo Roberto Grecellé, especialista em mercado de carnes. Para ele, a indústria pode, inclusive, se beneficiar:
— A indústria da carne ganhará, no médio e longo prazo, pois será forçada a se qualificar ainda mais, se aperfeiçoar e, em alguma medida, se reinventar.
A demanda por plant-based é uma vertente, assim como o aumento de pessoas que consomem carne. Sendo assim, o especialista afirma não acreditar na redução da ingestão de proteína animal:
— Contudo, tem sim um importante recado a toda a cadeia de carne bovina. Algo tipo: fique esperto. Pois você não está mais sozinho neste mercado, e as preferências de uma parcela da população mundial estão mudando, por preferência, ou porque questiona ou não aceita modelos produtivos que não conseguem atestar compatibilidade ambiental e bem-estar animal.
Hoje, os veganos e vegetarianos representam aproximadamente 14% da população, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
— Esse mercado está só começando. As pessoas estão tendo a oportunidade de ter a experiência de início de revolução dentro da maior categoria de alimentos do mundo, que é a de carne — reforça Marcos Leta, um dos proprietários da Fazenda Futuro.
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