Analisar os setores da economia sob a perspectiva dos pilares da sustentabilidade – econômico, social e ambiental – e não apenas pelo Produto Interno Bruto (PIB) parece simples. Mas requer mudança de mentalidade. Os Estados Unidos são o país mais produtivo do setor de alimentos e o maior exportador mundial de produtos e subprodutos agrícolas.
Entre os Estados, a Califórnia lidera em valor monetário. Dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) mostram que a Califórnia produz entre 70% e 100% do valor nacional de pelo menos 24 produtos. É líder em frutas e verduras e está entre os principais produtores de leite e de gado de corte. A maioria desses alimentos exige uso intensivo de água, terra e mão de obra, com implicações ambientais e sociais.
Regiões da Califórnia com maior concentração de frutas e legumes são constantemente desafiadas por seca. O Estado produz 90% dos tomates enlatados e processados nos EUA e 35% da produção mundial, grande parte no município de Yolo, onde o número médio de pessoas afetadas pela insegurança alimentar é três vezes maior do que a média nacional.
Em todo o país, 20% dos que trabalham em restaurantes correm alto risco de sofrer com insegurança alimentar. O setor de alimentos é o maior empregador da economia americana e cresceu 16% entre 2010 e 2016. Mas muitos dos que atuam na produção de alimentos mais eficiente do mundo gastam mais de 30% de sua renda para comer.
Ironicamente, é o segmento com o maior percentual de pessoas no programa social de bolsas de alimentação. Há também um problema crescente entre os produtores, onde 40% declararam lucro abaixo de US$ 1 mil por ano. Vários agricultores do país também recebem bolsa-auxílio de alimentos.
Podemos usar o modelo americano para entender a importância de considerar a produção de alimentos de um ponto de vista mais holístico. Quando se trata de comida, as perguntas não podem se restringir a quanto um país produz, quanto cresceu, quanto exporta e se o preço da comida caiu. Devemos também nos perguntar: como a produção e o crescimento são distribuídos?
Essa expansão contribui para o aumento ou a diminuição da desigualdade? Quais os impactos para o solo e a água? O foco excessivo na produtividade levou a Califórnia a ser o maior produtor agrícola e, ao mesmo tempo, o Estado que enfrenta o problema mais sério de abastecimento de água e, ainda, onde o setor produtivo enfrenta a pior desigualdade socioeconômica.
Maria Elba Rodriguez Alcalá é coordenadora do Programa de Desenvolvimento Internacional do Instituto Deaton da Universidade de Missouri, EUA
Colaboraram:
Mary Hendrickson, orientadora do programa de Agricultura Sustentável
William McKelvey, coordenador do Centro Interdisciplinar de Segurança Alimentar, ambos da Universidade de Missouri