Na esteira da desinformação e de embates políticos e ideológicos desconectados da realidade agrícola, o Brasil perde oportunidades no cenário mundial do agronegócio. Um dos motivos é a falta de entendimento do que é a agricultura moderna por parte da população. Apesar de sermos todos dependentes da produção rural (pense no Brasil sem os alimentos, o vestuário e a energia produzida pelo campo), é minoria nas grandes cidades quem entende como funciona o agronegócio. Falta na educação do brasileiro uma visão realista da agricultura. Corrigir este erro mais tarde não é fácil e nem sempre efetivo.
A falta de cultura agrícola ajuda a disseminar mitos e bobagens sobre o tema nas mídias tradicionais e nas redes sociais. É constrangedor ver opiniões de “famosos” se posicionando contra ou a favor de práticas agrícolas sem ao menos entender o que elas representam do ponto de vista técnico, social ou econômico.
E a nossa sociedade acaba sendo massa de manobra fácil. Basta ver o festival de besteiras que se transformou o embate entre os sistemas orgânico e convencional de produção agrícola. De maneira simples, não deveria haver um conflito. O que precisamos, enquanto sociedade, é de sinergia.
Um exemplo que pode ser síntese desse processo é o engajamento da população urbana nas propostas de proibição de insumos, defensivos e de suas técnicas de aplicação. Tratam-se de ferramentas de trabalho desenvolvidas, testadas e aprovadas nas diferentes instâncias regulatórias, dentro de uma legislação rigorosa. Portanto, esses produtos e técnicas são seguros para a sociedade, desde que sejam usados da maneira correta (as boas práticas agrícolas). Exemplo é o herbicida 2,4-D, uma das ferramentas mais utilizadas no controle de plantas daninhas no mundo e que, periodicamente, é alvo propostas injustificáveis de proibição.
Tentando correr atrás do prejuízo, o agronegócio se mobiliza para cobrir as lacunas deixadas pelas políticas públicas que ignoram a importância da educação básica, da capacitação e do treinamento de mão de obra no setor agrícola. Nunca foram tão importantes e valorizados os serviços privados de extensão. Em todos os segmentos da produção agrícola as boas práticas assumiram lugar de destaque nestes programas de treinamento, buscando oferecer à sociedade uma visão real da agricultura que ajuda no crescimento e na sustentabilidade do país. Infelizmente, essas ações não são tão efetivas exatamente pela ignorância sobre o tema que assola boa parte da sociedade “urbana” no Brasil.
Ulisses R. Antuniassi é professor do Departamento de Engenharia Rural da Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (FCA/UNESP) – Campus de Botucatu/SP