Embalada pela rentabilidade de boas colheitas nos últimos anos no país, as indústrias de máquinas agrícolas apostam em um segundo semestre de recuperação para fechar 2014 com números não tão distantes de 2013 - quando o setor bateu recorde ao vender 83 mil unidades no mercado interno. Com queda de 20% de janeiro a junho, na comparação com o mesmo período do ano passado, o setor pretende reduzir estoques com descontos, demonstração de produtos em dias de campo e promoções de viagens.
Para estimular as vendas, revendas de fabricantes reduzem margens de lucros e não economizam em ações para atrair compradores. Com um redução no faturamento ao redor de 10% no primeiro semestre, a concessionária da John Deere Lavoro aposta em dias de negócios, demonstração de produtos no campo e visitas a fábricas.
- São formas de estimular o produtor num período que costuma ser mais forte em vendas, em razão da colheita da safra de inverno e plantio das lavouras de verão - destaca Sandro Chioquetta, diretor da Lavoro, revenda com sete lojas no Rio Grande do Sul.
No começo de agosto, a concessionária irá levar filhos de produtores para conhecer a fábrica da marca nos Estados Unidos e o maior cinturão de grãos do mundo, nos Estados americanos de Illinois e Iowa.
As vendas na Expointer, que ocorrem de 30 de agosto a 7 de setembro, serão termômetro do que esperar até o fim de 2014.
- O evento é ponto-chave para saber como o mercado irá se posicionar no semestre. O juro atual deve ser um atrativo para os negócios - avalia Diovane Rodrigues, gerente de vendas da Augustin, representante da Massey Ferguson.
A revenda, com nove lojas no Estado e quatro no Paraná, reduziu em 20% as vendas no primeiro semestre, mesmo percentual verificado pelo setor em todo país. Na Agrofel New Holland, com 11 concessionárias em solo gaúcho e uma em Mato Grosso do Sul, a retração foi maior: acima dos 30%.
- O desempenho ficou bem abaixo da expectativa. Os pedidos até ocorreram, mas a falta de liberação dos bancos retraiu bastante - diz o gerente-geral de negócios da revenda, Andrei Gazzana.
Os estoques da concessionária, que não costumam ultrapassar R$ 30 milhões, estão agora acima de R$ 40 milhões e com pátio lotado à espera de compradores.
Crédito extra mantém o otimismo do setor
A queda nas vendas de máquinas agrícolas no primeiro semestre deste ano já era esperada pela indústria, que alcançou volumes recordes de faturamento no ano passado. Mas a retração foi acentuada pelo represamento de contratos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) nos primeiros meses do ano.
Com a normalização da liberação de crédito aliada à reativação do Moderfrota no Plano Safra 2014/2015, a expectativa é de retomada das vendas para evitar demissões no setor.
- O BNDES fechou as torneiras, a liberação de verba no semestre passado saiu muito a conta-gotas - aponta Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Estado (Simers).
Apesar da retração nos primeiros seis meses do ano, a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) prevê melhora de cenário no segundo semestre. Estimativa da Anfavea é de que 2014 termine com queda não superior a 12%.
- O mercado estabiliza em função dos ciclos da agricultura, é normal esse crescimento em ondas - avalia Milton Rego, vice-presidente da Anfavea.
Para o dirigente da Anfavea, o mercado irá continuar crescendo por dois motivos: a manutenção de uma frota eficiente e os investimentos cada vez maiores em mecanização para aumento da produtividade.
Programa de Sustentação do Investimento (PSI)
Juros de 4,5% até 6% ao ano
Prazo de 10 anos para colheitadeiras e 8 anos para tratores
Moderfrota
Reativado no Plano Safra 2014/2015, tem juro de 4,5% ao ano
Prazo de 8 anos para colheitadeiras e 6 anos para tratores