Somente a produção das agroindústrias, exemplifica Müller, representa 25,6% do PIB industrial gaúcho. No país, o mesmo percentual não passa de 14,3%, reforçando a dependência maior do Estado do setor primário.
Perto de emplacar uma nova safra recorde de grãos neste ano, pela primeira vez superior a 30 milhões de toneladas, o Rio Grande do Sul acumula, nos últimos quatro anos, três resultados históricos colhidos no campo. Graças a condições climáticas favoráveis, combinadas com investimentos cada vez maiores em tecnologia, a produção agrícola deverá faturar R$ 24,1 bilhões no ciclo atual. O dinheiro que sairá das lavouras gaúchas passará de mão em mão e se multiplicará, espalhando sorrisos também na indústria, no comércio e nos serviços.
Ao considerar o movimento da safra antes e depois do cultivo, a cifra resultante da produção e do beneficiamento de soja, arroz, feijão, milho e trigo poderá saltar para R$ 83,79 bilhões - 27% do Produto Interno Bruto (PIB) -, conforme estudo elaborado pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
- O volume histórico colhido é uma resposta a investimentos em tecnologia, beneficiado também por linhas de crédito concedidas ao setor. Não é em gabinetes que se produzem boas safras, mas no campo, com trabalho árduo dos produtores - destaca o presidente da Farsul, Carlos Sperotto.
O anúncio da projeção que acena com a consolidação de uma nova supersafra de grãos no Estado foi feito nesta quinta-feira em cerimônia no Palácio Piratini, em Porto Alegre, comandada pelo governador Tarso Genro. Em solenidade em tom de comemoração, o governador ressaltou que o aumento de 9,2% da produção em relação à safra anterior é resultado também de políticas de incentivo ao setor.
Com base em levantamento feito com mais de 80% da área colhida nas lavouras gaúchas, a Emater assegura que a possibilidade de revisões expressivas dos números após o fim da colheita é remota.
- A não ser que houvesse algum fator externo que mudasse o cenário nesse período, como instabilidade climática, o que não está ocorrendo - explica o presidente da Emater, Lino de David.
Até agora, o volume recorde de todos os grãos é da safra de 2011, quando 28,6 milhões de toneladas foram colhidas no Rio Grande do Sul.
Depois da colheita frustrada de 2012, provocada por uma forte seca, os produtores rurais acumularam outras duas safras cheias. Com mais dinheiro disponível, o setor primário aumentou os investimentos em máquinas, equipamentos e fertilizantes e levou a reboque outros setores produtivos.
- Uma safra como essa irriga toda uma economia, refletindo diretamente na indústria - destaca o presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), Heitor Müller.
O impacto no setor industrial é sentido nas atividades diretamente ligadas ao setor - como na produção de máquinas, equipamentos, fertilizantes e alimentos - e também na fabricação de bens de consumo.
- Quando se tem mais dinheiro no mercado, mais produtos industriais são vendidos, de carros a imóveis - completa Müller.
A renda alimentada pelos grãos provoca o mesmo efeito no comércio e no setor de serviços, especialmente nos municípios de base econômica agrícola. A projeção de uma safra cheia faz o varejo gaúcho prever aumento de 6% a 7% nas vendas neste ano.
- A renda gerada pela agricultura representa mais de 60% dos negócios do varejo, inclusive na Região Metropolitana - afirma Vitor Koch, presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas no Estado (FCDL-RS).
Conforme o dirigente, o ciclo virtuoso começa pelo aspecto psicológico, animando os comerciantes, que se animam a investir para atrair os potenciais compradores nos anos em que a agricultura vai bem. Aliada à renda gerada, cresce a concessão de crédito com garantias seguras de pagamento.
- A geração de renda no campo resulta em empregos que, consequentemente, são revertidos em consumo - resume Koch.
Valorizada, soja avança
Carro-chefe das exportações gaúcha e responsável por quase metade do volume total de grãos colhidos no Rio Grande do Sul, a soja deverá bater novo recorde, mesmo com volume colhido por hectare (produtividade) 1,7% menor do que em 2013. A supersafra do grão neste ano foi garantida pelo aumento de 5% da área plantada - 250 mil hectares a mais do que no ano passado, conforme a Emater.
- O avanço em quase 100 mil hectares se deu em cima de áreas de milho, e o restante, em campos da Metade Sul - destaca Lino de David, presidente do órgão.
A produtividade menor na safra atual, média de 2.650 quilos por hectare (ou 44 sacas por hectare), deve-se especialmente à onda de calor que atingiu o Estado no fim de janeiro e início de fevereiro - comprometendo o desenvolvimento das plantas no período de enchimento de grãos.
Mesmo com o resultado um pouco aquém do esperado pelos produtores, a safra projetada pela Emater é 3,5% maior do que a de 2013 - podendo chegar a 13,2 milhões de toneladas. O volume sozinho resultará em faturamento de R$ 13,6 bilhões das lavouras - beneficiado pela valorização do grão no mercado internacional - alcançando R$ 70 o valor da saca no porto de Rio Grande.
- Não podemos atribuir os bons resultados somente ao clima. Há políticas de incentivo à produção, voltadas à irrigação e armazenagem, e muito investimento por detrás dessa safra histórica - resume o secretário estadual da Agricultura, Claudio Fioreze.