Com preços mais de 25% acima dos do ano passado, o trigo começa a ser oficialmente colhido no Estado hoje e anima os gaúchos que apostaram na ampliação da área cultivada. Se mantidas as estimativas iniciais, a produção deve chegar a 2,61 milhões de toneladas em 1,03 milhão de hectares, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Confirmado, será o segundo melhor resultado desde 1976, quando começaram os levantamentos.
Ainda não há dados sobre eventuais perdas com a chuva desta semana. Apesar de a área ter sido ampliada em apenas 5,5%, a produção deve ser 30% maior do que a registrada em 2012 - quando houve quebra na safra em razão da geada. A cerimônia de abertura será hoje em Cruz Alta, mas a colheita já iniciou em algumas regiões do Estado há cerca de 15 dias.
É o caso de São Borja, onde o produtor Andrei Francesco Sallet, 27 anos, plantou trigo em 3 mil hectares. Apesar de ter a produtividade reduzida a 16 sacas em 700 hectares devido a uma geada pontual registrada na região, no restante da área o rendimento chega a 58 sacas. A produção é vendida por cerca de R$ 40 a saca.
- Colho e entrego rapidamente, pois não tenho onde estocar o grão - afirma Sallet.
No Noroeste, Fernando Carpes, de Cruz Alta, está entre os produtores que ajudaram a ampliar a área. Há quatro anos não cultivava mais trigo e, nesta safra, plantou 260 hectares. Carpes calcula que a produtividade deve ser de, no mínimo, 50 sacas por hectare. No Estado, a média esperada pela Emater é de cerca de 40 sacas por hectare.
- Estou apostando principalmente pelo preço, mas também pelo baixo estoque do produto em todo o mundo. Quero buscar mais receita no ciclo do inverno - diz o produtor, que planeja investir os recursos do grão na fertilidade do solo para a safra de soja.
São os estoques mundiais abaixo do habitual que elevaram os preços e estimularam o reforço gaúcho na cultura. Atualmente, há em torno de 176 milhões de toneladas armazenadas, enquanto o ideal seria ter pelo menos 200 milhões de toneladas.
Com a oferta reduzida, a cotação do grão, de acordo com o analista Elcio Bento, da Safras & Mercado, chegou a R$ 850 a tonelada:
- O preço atual se deve a fatores como a interrupção das exportações da Argentina, em maio, e às perdas com geadas no Paraná e no Paraguai. Mas ao longo da temporada o preço deve cair para até R$ 700 a tonelada.
Além do valor e do menor estoque mundial, as condições climáticas neste ano, pelo menos até o momento, foram mais amigáveis aos produtores gaúchos em relação ao ano passado e na comparação com o que ocorreu no Paraná, neste ano. Em 2012, geadas tardias no final de setembro fizeram o desempenho da safra gaúcha despencar, o que ocorreu, agora, com
o Paraná, onde a quebra estimada em 1,3 milhão de toneladas ajuda a valorizar o grão gaúcho, observa Luiz Ataídes Jacobsen, engenheiro agrônomo da Emater em Passo Fundo.