O deserto do Saara, conhecido por suas condições áridas, teve uma transformação rara. Após dois dias de chuva intensa no final de setembro, o cenário entre as dunas ganhou lagoas temporárias.
O volume, que superou em poucos dias as médias anuais em várias áreas, levou umidade a regiões que costumam receber menos de 250 milímetros de chuva por ano, como Tata, no sul do Marrocos. Além disso, causou 18 mortes devido a enchentes.
No sudeste do país, uma das áreas mais secas do planeta foi transformada com grandes bolsões de água. Na vila de Tagounite, situada a cerca de 450 quilômetros ao sul da capital, Rabat, mais de 100 milímetros foram registrados em apenas 24 horas, causando espanto na comunidade e em turistas.
Nova paisagem
O Lago Iriqui é um dos locais com a paisagem transformada. Na área, que estava seca há cinco décadas, a água voltou a se acumular, criando um cenário pouco visto no Saara.
Houssine Youabeb, da Direção Gerla de Meteorologia de Marrocos, afirmou que há cerca de 50 anos não se via um volume grande de chuva em um espaço de tempo tão curto na região.
Tempestades extratropicais
Esses eventos de grande volume de chuva concentrados em poucos dias são classificados como tempestades extratropicais e têm o potencial de influenciar o clima da região em longo prazo. Isso porque, com a elevação de umidade no ar, o ciclo de evaporação tende a se intensificar, podendo atrair novas tempestades e provocar mudanças climáticas.
Além de proporcionar imagens inéditas, a chuva deve ter impacto direto no ecossistema e na disponibilidade de água. Os aquíferos subterrâneos, essenciais para abastecimento das comunidades, poderão ser recarregados.
Segundo dados locais, os reservatórios represados tiveram recargas em níveis recordes. No entanto, ainda é cedo para afirmar o quanto a chuva vai ajudar a aliviar a seca em um cenário de mudanças climáticas e instabilidade hídrica.