O furacão Milton tocou o solo da Flórida, nos Estados Unidos, na noite de quarta-feira (9), deixando mortos, feridos e destruição por onde passou. Foram pelo menos 3 milhões de imóveis sem energia elétrica. A população da costa leste norte-americana mal teve tempo de se recuperar do furacão Helene, que deixou 200 mortos em seis estados no fim de setembro, antes de enfrentar mais um evento climático extremo.
Mas não foi a primeira vez que a população esteve diante deste cenário. A chamada “temporada de furacões” acontece entre o fim do verão e o início do outono na região do Golfo do México, normalmente entre os meses de agosto e novembro. Essa época do ano tem o principal fator para formar ciclones: o calor.
— É justamente quando os oceanos e os mares estão mais aquecidos que essa água vai gerar o processo de intensa evaporação, o que configura um sistema de baixa pressão muito forte — explica Luciano Zasso, professor coordenador do curso de Geografia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Quando o vapor quente da água começa a subir cada vez mais rápido, o sistema se choca com massas de ar frio, presentes na atmosfera devido à proximidade com o outono e o inverno. Esse encontro forma ventos circulares tão fortes a ponto de se transformarem em movimentos ciclônicos sobre o oceano.
Ciclone, furacão ou tufão?
Com grande potencial de destruição, os eventos podem ser chamados de ciclone, furacão ou tufão, o que costuma gerar dúvidas. Conforme Zasso, trata-se do mesmo fenômeno meteorológico, porém com nomes diferentes dependendo da região do planeta.
Os ciclones acontecem no Oceano Pacífico Sul e na costa leste da Austrália. Os furacões, por outro lado, são os que atingem o Atlântico Norte e as costas da Califórnia, nos EUA, e do México.
Já os tufões são os formados no Oceano Índico, entre Japão, China, Taiwan, Índia e outras ilhas do entorno. Todos começam sobre o mar e precisam de água quente e evaporação para ganhar dimensão. Eles raramente atingem o Atlântico Sul, e, quando isso acontece, também são chamados de ciclones.
Intensidades
Existem cinco categorias para classificar os furacões. A primeira, considerada mais amena, começa com ventos a partir de 119 km/h. Na máxima, a cinco, a velocidade ultrapassa os 256 km/h. Em alguns casos, o intenso fluxo de ar consegue movimentar as águas do oceano, provocando grandes ondas.
O furacão Milton, por exemplo, atingiu a categoria cinco ao longo da semana, mas foi reclassificado para a três momentos antes de tocar o solo, quando passou para a categoria dois.
— Normalmente, o furacão perde força rapidamente quando atinge uma área continental porque ele perde o contato com a principal fonte que o alimenta: a evaporação das águas aquecidas do oceano — explica o professor da PUCRS.
O tornado
O único que foge do conceito anterior é o tornado. Muito menor em escala, área atingida e duração, o fenômeno é diferente dos outros porque não se forma na água. A nomenclatura serve apenas para os eventos que acontecem sobre o continente.
Para que se forme, é preciso que haja alta concentração de ar quente em contato com massas frias, gerando ventos circulares intensos. Eles são comuns em grandes planícies, como a zona central dos Estados Unidos.
— Por ser concentrado em uma área menor, muitas vezes são mais intensos na velocidade dos ventos — descreve Zasso.
Apesar de não receberem o mesmo nome, os tornados podem estar associados aos furacões. Quando este último toca o solo e espalha ar quente, uma pequena região pode ter uma concentração tão grande de vento a ponto de formar uma espiral de tornado. Ainda assim, os eventos continentais duram poucos minutos e não passam de algumas centenas de metros de abrangência, enquanto os furacões duram dias e atingem diversas cidades e estados.
Regiões de maior ocorrência
Ciclones, furacões e tufões costumam acontecer em zonas tropicais e subtropicais de baixas latitudes. Os tornados aparecem entre os trópicos e nas áreas temperadas, de latitudes médias, apenas em regiões de planície.
A população do Golfo do México já viu inúmeros furacões ao longo dos anos. Os fenômenos acontecem com grande frequência no país latino, no sul dos Estados Unidos e nas ilhas do Caribe por conta da configuração geográfica da região.
O formato de golfo faz com que uma grande quantidade de água do mar seja represada, facilitando a concentração de calor ao fim do verão. É a formação fechada dessas terras que faz com que as águas aqueçam muito mais do que em mar aberto.
— É o prato cheio para que esses fenômenos ocorram com bastante intensidade porque é uma combinação perfeita de água aquecida com o encontro do ar quente e da massa de ar frio — pontua o especialista.
Essa característica explica o fato de Brasil não sofrer com esse evento climático extremo. A costa brasileira é muito mais retilínea do que a do México e dos EUA, e, por isso, não conta com muitas zonas capazes de concentrar temperaturas tão elevadas na água.
Mesmo assim, não há garantia de que ciclones não possam ocorram na costa brasileira. Em março de 2004, o ciclone Catarina, um dos únicos registrados nessa parte do globo, atingiu o norte do Rio Grande do Sul e o sul de Santa Catarina ao longo de cinco dias. Na época, 11 pessoas morreram e 14 cidades decretaram estado de emergência, segundo a CNN.
Dá para prevenir?
O constante aumento da temperatura das águas faz com que fenômenos deste tipo se tornem cada vez mais frequentes e intensos. Para o professor de Geografia, a única forma de evitar é controlar o aquecimento global, o que exige cooperação entre a população, nações e indústrias – e levará tempo.
— Tendo em vista a situação atual do planeta, o que nos resta é buscar proteção. Uma das coisas mais importantes é que a gente tenha um sistema de previsão e prognóstico preciso, para podermos prever com antecedência e ter tempo de nos protegermos — conclui Zasso.
*Produção: Caroline Guarnieri