Por Domingos Velho Lopes
Diretor vice-presidente e coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Federação da Agricultura do Estado do RS (Farsul)
O Brasil é uma potência agropecuária indiscutível, e o Rio Grande do Sul tem posição de destaque nesse cenário: nossa capacidade de produção é de fazer inveja aos olhos de outros países. Somos eficientes em produzir, em um mesmo ano, de duas a três safras na mesma área. Essas conquistas e esse crescimento são frutos de investimentos em ciência, no uso de tecnologias de ponta e na capacidade de trabalho do produtor rural. Prova disso é que a produção brasileira, entre 1977 e 2021, cresceu 464% diante de um aumento de apenas 80% de área ocupada.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), até 2050 a população mundial alcançará a marca de 9,1 bilhões de pessoas. Estima-se que, até 2030, quatro de cada cinco pessoas viverão em países importadores líquidos de alimentos. Hoje o Brasil já é considerado o maior exportador líquido de alimentos do mundo. Nossa responsabilidade diante da segurança alimentar nacional e internacional é gigantesca e crescente.
Nas organizações internacionais, a política global de alimentos e mudanças climáticas está vinculada à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), tendo como principal objetivo garantir que a produção de alimentos não seja ameaçada pelas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, mantendo a segurança alimentar mundial, sem afetar a resiliência ambiental.
A agropecuária possui capacidade única de mitigação dessas emissões. Somente a atividade primária é capaz de evitar, remover e até mesmo estocar carbono nas suas ações. Essa foi a conclusão do Grupo de Koronívia, criado no âmbito da UNFCCC, e que tem como objetivo promover agricultura sustentável no mundo, sendo que o preconiza o chamado Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), tecnologia brasileira, nascida no território gaúcho. Que traz no seu escopo o reconhecimento único da agricultura, da pecuária e da silvicultura no combate às mudanças climáticas.
Produzir alimentos, energia, fibras e produtos especiais de origem agrária é a principal vocação dos gaúchos, que está refletida nas 35 cadeias produtivas organizadas apresentadas na Radiografia da Agropecuária Gaúcha 2023. Para garantir a produção sustentável, nos aliamos à ciência e produzimos programas capazes de tornar eficiente e replicável a Agricultura de Baixo Carbono. Em nível nacional, o Plano ABC, promovido pelo governo federal e pela Embrapa entre 2010 e 2020, e que visava a organizar e a planejar ações para mitigar gases de efeito estufa, encerrou a primeira fase com 155% dos objetivos alcançados.
Atualmente o Brasil está na segunda fase do Plano ABC+, que visa adaptar o setor produtivo ao balanço negativo de carbono. O programa possui metas ambiciosas desenvolvidas sobre oito eixos diferentes: recuperação de pastagens degradadas; plantio direto; sistemas de integração (lavoura, pecuária e floresta); sistemas irrigados; uso de bioinsumos; tratamento de dejetos animais; abate pecuário em terminação intensiva e florestas plantadas.
No Rio Grande do Sul, o alinhamento com as metas nacionais foi estabelecido pela Resolução da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação nº 01/2023, que instituiu o Plano Estadual para Adaptação a Mudanças do Clima e Baixa Emissão de Carbono na Agropecuária no Estado (Plano ABC+ RS), com uma meta de mitigação de 75 milhões de dióxido de carbono equivalente (tCO2eq) até 2030. Essa meta mitiga a emissão gerada pelas cinco maiores cidades gaúchas (Porto Alegre, Canoas, Caxias do Sul, Pelotas e Santa Maria), neutralizando seu efeito de aquecimento no período de 10 anos.
Talvez seja difícil para leigos entenderem essas metodologias ou técnicas, mas atualmente todas elas já são a realidade das propriedades rurais. Algumas ações de agricultura de baixo carbono foram adotadas no Rio Grande do Sul ainda na década de 1960, com objetivo de conservação do solo e aumento da produtividade, sem nunca perder o foco na resiliência ambiental e no desenvolvimento sustentável.
Para atingirmos a opinião pública nacional e consolidar nossa imagem internacional, precisamos nos comunicar melhor. Mostrar que temos seis biomas no Brasil, sendo cinco deles são responsáveis pela produção de 98% de nosso consumo interno e exportação; e mais, que temos o compromisso de resolver como nação os problemas que hoje assolam nossa floresta tropical e todo o bioma amazônico.
A COP28, em Dubai, é mais uma oportunidade de o setor agropecuário gaúcho e brasileiro comprovar e ratificar o compromisso quanto à segurança alimentar, mas principalmente de evidenciar à nossa sociedade, em especial aos nossos pares urbanos, que somos o exemplo mundial de produção sustentável, com total respeito aos preceitos ambientais. O mundo e as COPs reconhecem o Brasil como responsável pela segurança alimentar global, cabe a nós consolidarmos este conceito junto a sociedade brasileira.