Com as temperaturas globais atingindo níveis recordes e eventos climáticos extremos afetando pessoas em todo o mundo, a 28ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP28) começa nesta quinta-feira (30) em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Até o dia 12 de dezembro, as 198 Partes da Convenção da ONU concluirão o balanço do progresso na implementação das metas do Acordo de Paris. E o desafio é grande para todos os líderes envolvidos.
Com base nos detalhes do Acordo de Paris sobre o Clima que foram negociados e acordados nos últimos anos, a COP28 concentra-se principalmente na implementação do Acordo e no impulso à ambição e ação climáticas.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) destaca a necessidade de uma redução de 43% nas emissões de gases de efeito estufa até 2030, em comparação com os níveis de 2019. Isso é vital para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC até o final do século e evitar os piores impactos das mudança climática, como secas, ondas de calor e eventos de chuvas mais frequentes e intensos.
Dados do Copernicus (C3S), observatório da União Europeia, mostram pela primeira vez, a temperatura média global foi mais de 2°C superior as registradas na era pré-industrial, entre 1850 e 1900.
— Não podemos enfrentar a catástrofe climática sem atacar sua causa principal: a dependência dos combustíveis fósseis. A COP28 deve enviar um sinal claro de que a era do combustível fóssil está sem gás, que seu fim é inevitável. Precisamos de compromissos confiáveis para aumentar as energias renováveis, eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e aumentar a eficiência energética, garantindo ao mesmo tempo uma transição justa e equitativa — afirmou António Guterres, secretário-geral da ONU.
A COP28 reunirá líderes de governos, jovens, organizações da sociedade civil, empresas, pesquisadores e cientistas para encontrar soluções concretas para a questão do clima. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá participar nos dias 1 e 2 de dezembro, durante a reunião de cúpula com 140 chefes de Estado e de governo.
O Brasil terá uma delegação com cerca de 1,5 mil participantes da sociedade civil, de empresas privadas, do Congresso Nacional, de governos estaduais e do governo federal. Liderada pelo vice-governador Gabriel Souza, a delegação do governo do Rio Grande do Sul contará com representantes das secretarias do Meio Ambiente e Infraestrutura, Desenvolvimento Econômico e Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação.
Propostas da América Latina
A proposta comum acordada pelos ministros do Meio Ambiente da América Latina e do Caribe contempla pontos sobre mudanças climáticas, biodiversidade, contaminação, gênero e ambiente, educação ambiental, consumo e produção sustentáveis.
A transição para as energias renováveis é o tema com maiores avanços na região, o que permitirá que a geração de energia a partir de fontes eólica e solar dobre em 2027 em relação ao nível atual, segundo um relatório divulgado no âmbito da Semana do Clima.
O que será discutido na COP28?
- Detalhar o financiamento para o Fundo de Perdas e Danos, estabelecido na COP27 para auxiliar as comunidades mais vulneráveis a eventos climáticos extremos nos países em desenvolvimento
- Estabelecer uma meta global de financiamento para apoiar países em desenvolvimento na luta contra a mudança climática
- Acelerar uma transição justa e equitativa para fontes de energia renováveis e um desenvolvimento de baixo carbono
- Abordar a lacuna de emissões de gases de efeito estufa
- Além disso, na Conferência, será concluído o primeiro Balanço Global, revelando o progresso coletivo em relação às metas do Acordo de Paris
Polêmica sobre o país anfitrião
Embora os Emirados Árabes Unidos tenham apenas 9 milhões de habitantes, emitiram 237 milhões de toneladas de CO2 em 2021, ante os 305 milhões de toneladas da Espanha e seus 47 milhões de habitantes, segundo dados oficiais, sem contar o metano e outros gases de efeito estufa.
Essas emissões não incluem o petróleo e o gás exportados pelo país, só refletem o CO2 emitido diretamente por seus habitantes e empresas. Isso indica uma economia e estilo de vida ainda baseados principalmente na combustão de petróleo e gás.
Desde a última segunda-feira, a presidência da COP28 tem sido acusada de conflito de interesses, após a rede britânica BBC revelar relatórios internos de reuniões que incluíam pontos de discussão sobre projetos energéticos dos Emirados Árabes.
A COP27 no Egito, em novembro de 2022, registrou um recorde de 636 lobistas das energias fósseis credenciados, um número 25% maior do que no ano anterior, segundo a Global Witness, que analisou meticulosamente os currículos dos participantes. A instituição garantiu à AFP que prevê um novo recorde em 2023.
Paradoxalmente, a COP28 pode ser a primeira conferência na qual o papel das energias fósseis nas negociações será abordado de forma direta, segundo especialistas.