O projeto sem fins lucrativos The Ocean Cleanup divulgou, no último dia 11, em seu perfil nas redes sociais, que realizou a maior extração de dejetos da Grande Mancha de Lixo do Pacífico da sua história. Nesta leva, foram retirados dos mares mais de 11 mil toneladas de detritos de uma vez só.
As manchas de lixo são grandes áreas do oceano onde lixo, equipamentos de pesca e outros detritos se acumulam. A mais famosa é a Grande Mancha de Lixo do Pacífico, que fica entre o Havaí e a Califórnia, nos Estados Unidos. Ela atualmente tem 1,6 milhão de quilômetros quadrados. As informações são do portal g1.
Muitos dos dejetos encontrados no local são pequenos pedaços de plástico flutuante que não são vistos a olho nu.
— Existem manchas de lixo em todo o mundo. O que sabemos sobre essa área da Grande Mancha é que ela é composta por minúsculos microplásticos, quase como uma sopa, com itens maiores espalhados, equipamentos de pesca — explica Dianna Parker, do Programa de Detritos Marinhos da Agência Americana Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês).
Ecossistema
A extensão de 1,6 milhão de quilômetros quadrados, pesando 79 mil toneladas, transformou-se em um hábitat para diversos microorganismos, dando origem a novos ecossistemas que acolhem espécies que, em condições normais, não conseguiriam subsistir em águas oceânicas abertas.
Uma pesquisa veiculada na revista Nature revelou que os detritos plásticos em flutuação desempenham papel de veículo para a disseminação das espécies pelo oceano. Anteriormente, acreditava-se que limitações fisiológicas ou ecológicas eram os principais impedimentos para a colonização oceânica.
Foram detectados 484 organismos marinhos invertebrados nos resíduos, abrangendo 46 espécies distintas, das quais 80% são comumente localizadas em áreas costeiras. A maioria desses residentes consiste em microorganismos, vegetais e algas que se fixam aos animais aquáticos sem espinha dorsal, como moluscos e esponjas.
"Os nossos resultados demonstram que o ambiente oceânico e o habitat plástico flutuante são claramente hospitaleiros para as espécies costeiras. Podem sobreviver, reproduzir e ter populações complexas e estruturas comunitárias em mar aberto", afirma o estudo.
Impacto no meio ambiente
De acordo com a NOAA, a Grande Mancha de Lixo do Pacífico está situada bem no centro do oceano, uma área raramente visitada por pessoas. No entanto, os resíduos têm o potencial de afetar a vida marinha de múltiplas formas:
- Pesca fantasma: redes de pesca perdidas são perigosas para a vida marinha. Chamadas de redes "fantasmas", elas continuam a pescar, mesmo que não estejam mais sob o controle de um pescador.
- Ingestão: os animais podem comer plásticos e outros detritos por engano.
- Espécies não nativas: detritos marinhos podem transportar espécies de um lugar para o outro. Se ela for invasora e puder se estabelecer em um novo ambiente, ela pode competir ou superlotar espécies nativas, interrompendo o ecossistema.
— Sabemos que existem microplásticos no oceano. Sabemos que pássaros, peixes e até mesmo alguns mamíferos marinhos maiores comem esses plásticos. Sabemos que há produtos químicos nos plásticos e sabemos que esses produtos podem absorver outros que são tóxicos. A grande questão é: o que esses plásticos estão fazendo com os animais que os comem? — reflete Dianna.
Riscos para a saúde humana
Caso o plástico seja incorporado à cadeia alimentar marinha, existe a eventualidade de contaminação dos seres humanos. Além disso, os resíduos causam impactos em outras dimensões, podendo acarretar danos a embarcações e representar riscos à navegação.
Conforme avaliação da NOAA, é provável que a quantidade de resíduos continue a aumentar, o que provavelmente agravará os efeitos já existentes no ambiente, na navegação, na segurança marítima e na economia.
Por que esse lixo não foi eliminado?
A agência americana adverte que a possibilidade de a mancha desaparecer por completo é incerta. Isso se deve em grande parte ao fato de que a maior parte dos resíduos nessa região consiste predominantemente em microplásticos. Esses elementos são de dimensões tão reduzidas que remover completamente seria uma tarefa de extrema complexidade.
A sugestão da NOAA é focar na prevenção, buscando impedir a dispersão de resíduos pelo oceano. Esse esforço requer a colaboração conjunta de governos, empresas e a sociedade em geral.
— O lixo marinho é um problema solucionável porque vem de nós humanos e de nossas práticas cotidianas. Podemos tomar várias medidas para evitar que ele entre no oceano e isso pode acontecer no mais alto nível (com os governos) e nos indivíduos de nível mais baixo e nas escolhas cotidianas — completa Dianna.
Ao longo de quase uma década, a organização não governamental The Ocean Cleanup tem se empenhado na tarefa de limpar os oceanos. Segundo Boyan Slat, CEO dessa iniciativa, existe a perspectiva de remover 80% do plástico dos oceanos até 2030 e, aproximadamente, 90% até 2040.
O mecanismo concebido por ele opera como uma espécie de barreira flutuante, que é arrastada por dois embarcações. O dispositivo de coleta de resíduos se enche à medida que as embarcações avançam e à medida que o plástico é deslocado. Uma vez que a capacidade é alcançada, a "rede" é fechada, vedada e transportada de volta para o barco, onde ocorre o descarregamento.