Executiva sênior em sustentabilidade e UN SDG Pioneer — reconhecimento dado anualmente pelo Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) a 10 profissionais no mundo que atuam de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) —, Denise Hills, 55 anos, foi a palestrante convidada desta quarta-feira (23) para o Tá Na Mesa, tradicional reunião-almoço com empresários promovida pela Federasul. A ex-diretora de Sustentabilidade da Natura & Co América Latina foi chamada a debater os desafios e as oportunidades da gestão sustentável nas organizações, algo que se tornou indispensável.
— Não tem negócio que vá bem num planeta que não funciona, e muito menos onde as pessoas não conseguem viver — enfatizou.
Em coletiva de imprensa realizada antes do evento, Denise frisou que os principais desafios relacionados ao ESG (governança ambiental, social e corporativa) são o entendimento dos impactos que os negócios geram — e que não são opcionais — e a sua vinculação com decisões cotidianas das empresas, como onde investir ou qual produto fazer.
Atualmente, as pessoas já compreendem que os negócios também precisam operar para gerar um resultado positivo não só aos investidores, mas para a sociedade, os trabalhadores e os integrantes da cadeia de valor.
Nesse sentido, a executiva comentou da importância do salário digno e do bem-estar dos trabalhadores, o que está diretamente aliado à produtividade. Ressaltou ainda a necessidade de medidas que também contemplem direitos humanos e distribuição de capital — um imenso problema atual, segundo Denise. Em sua visão, não entender a relevância da diversidade pode, inclusive, afetar o modelo de negócios.
Desta maneira, as empresas e organizações precisam incorporar essas questões, por meio da governança, com investimento de capital, um novo modelo de negócios ou outras medidas, já que estão inseridas em uma economia que as valoriza.
Além dessas questões, há o desafio da consciência de que qualquer um pode e deve tomar medidas — e que o futuro será uma combinação dos esforços individuais e coletivos.
Partindo para a prática
Durante a palestra, a especialista aconselhou que as organizações que desejam implementar a sustentabilidade tenham como referência a Agenda 2030 da ONU e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável — metas a serem cumpridas para garantir condições saudáveis de vida e negócios. Ela recomenda escolher algum dos ODSs e buscar tomar melhores decisões cotidianamente com base no objetivo.
— É uma grande lista do que a gente precisa fazer, independente de quem você é nos múltiplos atores, para resolver esses problemas que nos afetam e garantem a nossa vida, como mundo e população até 2030 — explicou.
Segundo a executiva, é preciso mudar a economia para que os sistemas da natureza não colapsem e continuem garantindo a vida — buscando, assim, novos investimentos mais baseados nesse preceito. Há “excelentes possibilidades” de inovação ligadas ao setor de captura de carbono, segundo Denise.
— É importante que o negócio mude e não só que a gente tenha projetos que trabalhem 2%, 3% ou 10% só da cadeia, porque o que a gente precisa é de uma mudança no planeta e sociedade, e não em uma velocidade marginal — acrescentou.
Não há tempo ilimitado para garantir que não só as próximas gerações, como as atuais, deixem de sofrer os graves efeitos de uma mudança climática que já está ocorrendo — e garantir, consequentemente, que os negócios continuarão a existir em uma planeta em transição, com inúmeros desafios, como escassez de recursos naturais.
Essa é, justamente, a meta mais urgente a ser compreendida. Causadas pela atividade humana, as mudanças climáticas já são uma realidade. E, para impedir a elevação da temperatura do planeta e mitigar desafios que podem inviabilizar a vida em alguns locais, é necessário diminuir a emissão de gases de efeito estufa. No Brasil, conforme Denise, boa parte dessa emissão decorre do uso da terra e do desmatamento. O maior problema é entender, precificar e mensurar as emissões de modo geral, para reduzi-las.
Na palestra, ao debater os desafios ambientais atuais, a executiva também lembrou dos efeitos da mudança do clima na agricultura, nos negócios e na escassez de água. As maiores crises enfrentadas, atualmente, são as mudanças climáticas, os direitos humanos e a biodiversidade — que pode ser uma das soluções, conforme Denise.
As estratégias incluem preservar os biomas, garantir a Amazônia em pé e gerar viabilidade econômica em uma lógica que valorize a floresta e traga novas moedas, como o projeto de carbono ou o pagamento por serviços ambientais. A executiva vê um importante papel do Brasil nesse cenário, já que, sem a Amazônia, considera impossível resolver os problemas climáticos. Trata-se, portanto, de uma janela de oportunidades — principalmente com a realização da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30) no país em 2025, como também frisou na palestra.
— Ao adaptar negócios através dessa consciência, você tira o seu negócio do risco e começa a colocar a favor de desafios que a gente realmente pode implementar — afirmou.
Entra-se, agora, em uma era em que as pessoas escolhem com cuidado o que consumir, baseando-se nos impactos no planeta. Portanto, a consciência da sustentabilidade não é opcional, lembra a executiva. Qualquer decisão depende de recursos da natureza. Denise destaca que é preciso colocar a sustentabilidade como parte essencial dos negócios, assumindo um compromisso público e metas ambiciosas — ainda mais se o objetivo é se diferenciar e ganhar cada vez mais espaço.