Tem sido comum o anúncio de temperaturas recordes no planeta em 2023. O observatório europeu Copernicus anunciou que julho foi o mês mais quente já registrado nos balanços climatológicos. As temperaturas no Vale da Morte, entre os Estados da Califórnia e Nevada, nos Estados Unidos, atingiram 53,3°C no mesmo mês. Ondas de calor no sul da Europa, norte da África e China também fazem parte de um cenário global atípico de calor nos últimos meses.
Meteorologistas dizem que a temperatura alta no planeta pode ser explicada, em parte, pela ação do El Niño, responsável por aquecer o Oceano Pacífico Equatorial. O fenômeno deve alterar o comportamento do clima na primavera e no verão no Rio Grande do Sul: há a expectativa de estações mais chuvosas do que a média para os períodos, mas as temperaturas não devem apresentar discrepância anormal, como as registradas em outras regiões do planeta em 2023.
Segundo Marcely Sondermann, meteorologista da Climatempo, o fato de o El Niño causar ondas de calor em pontos específicos do globo no momento não significa que o mesmo cenário será visto quando o fenômeno aumentar a influência em locais como o Brasil, o que deve ocorrer a partir de setembro.
— O Hemisfério Norte tem uma área continental maior. E o continente tem um calor específico menor do que no oceano. Isso significa que o continente vai aquecer mais rapidamente e as temperaturas vão ser ainda mais extremas nesses locais. Já no Hemisfério Sul há mais oceanos; por isso, esperamos que as temperaturas não sejam tão altas (no verão) no sul do país quanto as que estamos vendo agora nos Estados Unidos e Europa — explica.
Segundo Marcely, o Estado começará a ter períodos mais quentes e com chuva, principalmente na primavera, que começa em 23 de setembro.
— O El Niño tem característica de trazer muita chuva para a região sul do Brasil. São esperadas temperaturas acima da média, mas não aquelas ondas de calor prolongadas. Teremos picos de calor e chuva frequente, tanto na primavera quanto no verão — acrescenta.
Verão com mais chuva
A exemplo da tendência global, julho em Porto Alegre foi mais quente na comparação com as médias climatológicas mensais (dados de longo prazo) registradas entre 1991 e 2020. As informações são da estação convencional do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) no bairro Jardim Botânico.
Na Capital, a temperatura mínima mensal para o período é 10,4ºC, mas, em 2023, o mês fechou com 12,2ºC no indicador. Já a temperatura média em julho foi 15,4ºC (a histórica é 14,1ºC). Porto Alegre também teve um mês mais quente se analisada a média das temperaturas máximas: foram registrados 20,9ºC no período no qual o esperado é 19,7ºC.
A precipitação no mês foi 215,2mm, o que representa 31,6% acima da média histórica registradas na Capital entre 1991 e 2020 (163,5mm). O El Niño deverá manter a rotina de chuvas constantes nas duas próximas estações, afirma Murilo Lopes, meteorologista da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
— A expectativa é de um verão mais chuvoso no Rio Grande do Sul, o oposto do que tivemos nos últimos anos, que foram marcados pela seca. Com a presença dessas áreas de chuva mais frequentes no Estado, a tendência é que seja um verão dentro da média histórica (de precipitação) ou acima — diz.
Lopes, porém, alerta para a possibilidade de que o fenômeno global possa ser responsável por dias de calor intenso nos próximos meses, principalmente a partir de dezembro.
— Não podemos descartar períodos curtos com temperaturas bastante elevadas e que potencialmente podem igualar recordes históricos. Contudo, a tendência é de que o excesso de precipitação esperado já para o final da primavera faça com que com dias sejam nublados e com chuva, e a temperatura não fique tão elevada em média. O verão no Rio Grande do Sul deve ter temperaturas esperadas para essa época do ano, mas com bastante precipitação.