Neste final de semana faz 10 anos que cidades do RS amanheceram com neve e temperaturas negativas. Ao menos 18 municípios registraram o fenômeno, surpreendendo turistas e moradores. De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão do tempo em 22 de julho de 2013, indicava diversas cidades com temperaturas abaixo de zero e condições para neve.
Por outro lado, neste sábado (22), 10 anos depois, as temperaturas chegaram a passar dos 30ºC, dando sensação de verão em pleno inverno. Meteorologistas apontam que a variação de temperatura é comum, até certo ponto, e que explicações para essa diferença climática depende de mais estudos e dados.
No entanto, o que se sabe é que em 2013, o inverno não teve a influência dos eventos climáticos El Niño e La Niña. Segundo levantamento realizado pela Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, sigla em inglês), em julho de 2013, a temperatura média das águas do pacífico estava -0,4ºC abaixo do considerado normal para o período. Já em julho deste ano está 0,5ºC acima.
Temperaturas negativas e neve em 2013
Naquele 22 de julho de 2013, em São José dos Ausentes, na Serra, a mínima registrada foi de -0,7ºC, assim como em Caçapava do Sul, na região Central; em Canela os termômetros marcaram -0,1ºC, em Bom Jesus,-1ºC, Cambará do Sul-2ºC, Soledade , no norte do Estado registrou -0,9ºC, Lagoa Vermelha teve 0,4ºC Santiago e Santana do Livramento -0,2ºC e Canguçu, na região Sul, teve mínima de -1ºC. Em Porto Alegre a mínima registrada foi de 2ºC e a máxima não passou de 13ºC, naquela segunda-feira gelada de julho.
A massa de ar polar e úmido favoreceu para que cidades da Serra, Região Central e Campanha registrassem neve e chuva congelada. As cidades de Lagoa Vermelha, São José dos Ausentes, Cambará do Sul e Bom Jesus tiveram suas paisagens modificadas pelas camadas de gelo. Os municípios de Frederico Westphalen, Erechim, Passo Fundo, Liberato Salzano e Bento Gonçalves tiveram a incidência de chuva congelada - fenômeno parecido com neve, mas observado em áreas nas quais a temperatura não está tão baixa.
De acordo com as informações dadas pelo Inmet à época, o fenômeno foi considerado fato raro em algumas regiões, como em Lagoa Vermelha, no norte do Estado.
No início daquela semana, as temperaturas também ficaram negativas e com a presença de neve no Paraná e em Santa Catarina. No estado vizinho, 28 cidades registraram neve, em Urupema a temperatura mínima registrada foi de -5ºC.
Relato
O repórter Matheus Schuch estava na redação da Gaúcha Serra, em Caxias do Sul, quando veio o alerta da meteorologia para a ocorrência de neve em julho de 2013. A seguir ele relata o que viu e sentiu naquele inverno gelado de 10 anos atrás.
— Com chuva fraca e previsão de uma nova frente fria, havia chance de nevar no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Junto a uma equipe da RBS TV, me desloquei a São José dos Ausentes, uma das mais frias do Estado — conta.
Schuch lembra que os moradores da cidade já o receberam profetizando a neve.
— No cair da noite, os primeiros flocos começaram a pintar de branco a cidadezinha, que, a rigor do nome, é mesmo pouco habitada. Num primeiro momento, havia poucos turistas. Alguns moradores deixaram o conforto do fogão à lenha para ver de perto os flocos de neve — lembra.
O repórter entrou no ar para a Rádio Gaúcha, relatando o cenário e sacou a câmera fotográfica.
— Há 10 anos, os smartphones ainda não ofereciam boas lentes. Então, eu fazia algumas fotos e corria ao hotel para despejá-las no computador e enviá-las aos canais do Grupo RBS. Ainda de madrugada, ouvintes e leitores já informavam que a neve não era privilégio de quem foi à região dos Campos de Cima da Serra. Dezenas de cidades gaúchas começavam a ser cobertas de gelo.
Na ocasião, recorda o repórter, os turistas lotaram os poucos leitos de hotéis e pousadas de São José dos Ausentes. O gelo era tanto que permaneceu intacto ao longo de todo o dia, mesmo com o fim da chuva e a chegada de uma massa de ar seco.
Calor 10 anos depois
Se há 10 anos os gaúchos estavam passando frio, o fim de semana desta vez é de calor. Isso porque um centro de alta pressão com giro de ventos anti-horário se afastaram do RS levando o ar frio, de acordo com o meteorologista do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (CPPMet/UFPel), Henrique Repinaldo.
Além disso, o aumento das temperaturas se deve a um fluxo de ar quente vindo do Norte e a presença de sol.