Depois de uma semana gelada, o Rio Grande do Sul volta a sentir o calor do Sol. A partir desta sexta-feira (21), os termômetros sobem no Estado e permanecem elevados ao longo do fim de semana. No entanto, no final de domingo (23) e no início da segunda-feira (24), voltam a descer.
Meteorologista do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (CPPMet/UFPel), Henrique Repinaldo explica que, desde o início desta semana, uma massa de ar polar, associada a anticiclones (centros de alta pressão com giro dos ventos anti-horário), estava sobre o Estado. Com o afastamento do anticiclone em direção ao oceano, o ar frio também se afastou.
Segundo Josélia Pegorim, meteorologista da Climatempo, outros motivos que levam a esse aumento de temperatura são um fluxo de ar quente vindo do Norte do Brasil e a presença de Sol forte na sexta e no sábado no Estado. A especialista prevê ainda um aumento da velocidade dos ventos (confira no vídeo).
— Vai haver um ciclone extratropical associado com a frente fria que chega ao sul gaúcho no domingo, mas este sistema estará muito longe do RS, na costa da Argentina, em alto mar, e não terá influência no tempo. A queda da temperatura vai ocorrer porque uma nova massa de ar frio de origem polar vai começar a influenciar o RS na segunda— acrescenta Josélia.
Conforme a Climatempo, as temperaturas podem chegar até 30ºC em algumas cidades já na sexta-feira, mas, especialmente, no sábado. No domingo, uma frente fria chega ao Litoral Sul, causando apenas aumento de nuvens. Não há previsão de chuva em nenhuma parte do Estado. Na segunda, haverá chuva e queda da temperatura no Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, os termômetros oscilam de 15ºC a 21ºC.
Do frio ao calor - e vice-versa
Repinaldo lembra que, nesta época, o frio deveria ser predominante no Estado, em razão do inverno. No entanto, a região em que o território está localizado também influencia no cenário atual:
— A gente está em uma região de latitude média, de transição de massas de ar, é muito fácil ter toda hora um regresso de uma massa de ar quente, do Norte para o Rio Grande do Sul, por exemplo, e é muito fácil chegar uma massa de ar frio vinda da Argentina e do Uruguai.
O meteorologista acrescenta que, por ocorrer por poucos dias, esse aumento da temperatura é relativamente normal no inverno gaúcho:
— O que não é normal é ter o que teve na primeira quinzena do mês, que foi bastante aquecida, mas poucos dias assim ocorrem.
Devido ao inverno, período com uma radiação solar menor, gerando menos aquecimento, e dias mais curtos, não é possível manter uma temperatura elevada por muitos dias, segundo Repinaldo. Além disso, outra massa de ar frio, muito comum nessa época, logo começa a se aproximar.
O professor Vagner Anabor, do programa de pós-graduação em Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), explica que, nesta época do ano, a intensa atividade dos sistemas ciclônicos tem certa periodicidade, produzindo, em média, a passagem de uma frente fria por semana — e, em situações extremas, até duas. Esse cenário explica por que muitos dias consecutivos com temperaturas acima de 25ºC não se mantêm.
A gente está em uma região de latitude média, de transição de massas de ar, é muito fácil ter toda hora um regresso de uma massa de ar quente, do Norte para o Rio Grande do Sul.
HENRIQUE REPINALDO
METEOROLOGISTA DO CENTRO DE PESQUISAS E PREVISÕES METEOROLÓGICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS (CPPMET/UFPEL)
No final de domingo, sobretudo no extremo sul, e no início de segunda, no restante do Estado, uma nova massa de ar frio de origem polar vai começar a influenciar o Rio Grande do Sul, ocasionando uma queda da temperatura.
— A temperatura depende da região. A massa de ar frio entrando nesses primeiros dias da semana também não é tão forte como aquela depois do ciclone extratropical. Haverá um decréscimo mais para dentro da normalidade esperada para julho — complementa Repinaldo.
Mês quente
Até aqui, julho teve mais dias quentes do que frios, conforme o meteorologista do CPPMet. Ele acredita que, até o fim do mês, julho terá sido, em média, mais quente. Ainda não é possível precisar a causa desse aumento nas temperaturas, mas alguns fatores climáticos podem ser considerados como possibilidades: os efeitos de aquecimento anômalo dos oceanos, com o Pacífico entrando no período do El Niño e o Atlântico bastante aquecido; efeitos a longo prazo, como o aquecimento global; entre outros.
O professor da UFSM, por sua vez, garante o papel das mudanças climáticas nesses eventos:
— O fenômeno das mudanças climáticas já é uma realidade global, nenhum fenômeno meteorológico atual ou futuro está fora desse contexto.
Em relação ao El Niño, Repinaldo explica que o fenômeno começou a aquecer as águas do Pacífico há pouco tempo e, até seus efeitos serem sentidos na atmosfera, pode demorar alguns meses. Ele não descarta, no entanto, que uma transição atmosférica já esteja começando.
Os dois meteorologistas indicam que ainda há possibilidades de outros períodos de calor neste mês. As previsões climáticas, associadas à previsão do El Niño, apontam uma tendência de que o inverno seja mais quente do que o normal, conforme Repinaldo.
Os especialistas também ressaltam que o Estado ainda pode receber mais chuva em julho. O profissional do CPPMet destaca que, na maioria das cidades, a média do mês já foi atingida, em função de todos eventos meteorológicos, como os ciclones.
— Esse mês de julho vai acabar sendo na média ou acima. Os modelos já estão indicando um início de semana chuvoso, vai se somar às precipitações que a gente tem acumuladas. Será um mês chuvoso — conclui Repinaldo.