O ciclone extratropical que atua sobre o Rio Grande do Sul desde quinta-feira (15) expôs as fragilidades e problemas de diferentes municípios gaúchos para administrar altos volumes de chuvas. Conforme dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), algumas cidades registraram, em apenas 24 horas, um volume de chuva maior do que o previsto para todo o mês de junho. A situação suscita questões sobre o El Niño, que promete trazer um aumento significativo de precipitações e calor para o Estado.
Caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico, o fenômeno eleva as temperaturas do planeta e, neste ano, ainda pode evoluir para um nível “muito forte”, sendo classificado como “super El Niño”. Especialistas ressaltam, entretanto, que o evento climático não tem relação com a formação do ciclone extratropical.
Eliana Klering, professora da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), explica que o El Niño já está em atuação, mas ainda é classificado como fraco. Sendo assim, não está provocando efeitos no clima da Região Sul.
— Quando o El Niño está presente, totalmente formado, as passagens das frentes frias costumam ocorrer com velocidade menor, ou seja, se desloca mais lentamente. E como normalmente a frente fria está associada ao episódio de chuva, as precipitações duram mais tempo. O que não ocorreu agora, que foi uma quantidade significativa de chuva, em um curto período — compara a professora.
Além disso, apesar da previsão de aumento dos volumes de chuva, o esperado é que essa elevação seja mais significativa na primavera, sem uma atuação tão relevante no inverno, aponta Eliana:
— Aqui no Rio Grande do Sul, temos uma característica interessante: chove a mesma quantidade em todas as estações, cerca de 25% em cada uma delas. Mas, em anos de El Niño, normalmente temos atuação desse evento principalmente na primavera, é o esperado. Só que é muito prejudicial para a agricultura.
Segundo Heráclio Alves, meteorologista do Inmet, como reflexo do fenômeno, a previsão indica chuvas acima da média nos próximos três meses na Região Sul. Para o norte e nordeste do Brasil, contudo, há expectativa de redução das precipitações.
Já as temperaturas devem ficar dentro da normalidade no início do inverno, com algumas áreas acima da média, o que aumenta a chance de chuva, afirma Alves. Em julho, grande parte do RS fica com temperaturas mais frias, abaixo da média, enquanto em Santa Catarina e no Paraná, devem ficar dentro do esperado ou até acima da média.
— Em agosto, não tem muita mudança em comparação ao que é normal do mês. De forma geral, é um El Niño bem característico, com temperaturas dentro ou ligeiramente acima da média, o que ajuda a intensificar as chuvas durante o período — finaliza o meteorologista.