Um ciclone extratropical é responsável pela volumosa chuva e pelos fortes ventos que vêm causando estragos e transtornos em diferentes regiões do Rio Grande do Sul desde a manhã de quinta-feira (15). De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), algumas cidades gaúchas registraram, em apenas 24 horas, um volume de chuva maior do que o previsto para todo o mês de junho. Especialistas explicam, contudo, que o fenômeno não tem relação com o início da atuação do El Niño, que costuma gerar o aumento das precipitações no Sul.
Eliana Klering, professora da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), comenta que ciclone extratropical é um centro de baixa pressão, que gira na direção dos ponteiros do relógio e tem formação associada a passagens de frentes frias, que costumam ocorrer nesta época do ano na região Sul. O fenômeno pode ocorrer durante todo o ano, mas é mais comum no outono e no inverno, justamente por causa dos períodos de frio.
— Esses ciclones normalmente estão associados a uma frente fria, que traz umidade do oceano e, ao encontrar condições favoráveis no continente, faz com que ocorra precipitação de forma mais elevada e ventos de maior intensidade. Nesse evento especificamente, tivemos um ciclone passando mais próximo da costa, o que provoca essas precipitações ainda mais elevadas — esclarece.
De acordo com Heráclio Alves, meteorologista do Inmet, não é possível relacionar o El Niño com o ciclone, que estava previsto desde o meio da semana. Eliana concorda e acrescenta que o evento climático já está em atuação, mas ainda é classificado como fraco, sem provocar efeitos no Sul.
— Quando o El Niño está presente, totalmente formado, as passagens das frentes frias costumam ocorrer com velocidade menor, ou seja, se deslocam mais lentamente. E como normalmente a frente fria está associada ao episódio de chuva, as precipitações duram mais tempo. O que não ocorreu agora, que foi uma quantidade significativa de chuva em um curto período — compara a professora.
Alves aponta que o alto volume de chuva em um curto período sempre traz transtornos, principalmente para áreas de risco, mas destaca que o fenômeno começa a perder força já nesta sexta, porque se desloca para o alto mar. O ciclone, esclarece, se forma em questão de dias, portanto, não é possível fazer uma previsão mensal ou trimestral dos eventos.
— A previsão já nos mostrava que, por passar próximo da costa, teríamos muitas consequências com a passagem dele. É uma previsão a curto prazo, mas foram emitidos alertas de que esse evento provavelmente seria severo. E agora, com essa condição de vento, ainda temos um problema que é o represamento das águas do Guaíba, que não vão entrar para a Lagoa dos Patos e descer. Então, pode demorar mais um tempo para as regiões mais afetadas terem um retorno ao seu nível normal — complementa Eliana.