Um relatório divulgado em 15 de novembro pelo Instituto de Política Agrícola e Comercial (IATP, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, e pela fundação norte-americana Changing Markets revelou quais são as 15 produtoras de carne e laticínios que emitem mais metano e gases do efeito estufa (GEF), como gás carbônico e óxido nitroso. Entre elas, duas empresas brasileiras lideram o ranking: a JBS e a Marfrig. As duas companhias informaram, em notas, que têm metas de redução de emissão dos gases poluentes (leia os posicionamentos completos abaixo).
De acordo com os dados do relatório, a JBS (maior empresa de processamento de carne do mundo) é a que mais emite metano, sendo responsável por lançar ao meio ambiente 4,8 milhões de toneladas do gás. Suas emissões de metano excedem as emissões combinadas de metano pecuário da França, Alemanha, Canadá e Nova Zelândia ou se comparam a 55% do metano pecuário dos Estados Unidos.
Na segunda posição, aparece a Marfrig — segunda maior produtora de carne bovina do mundo — , que emite 1,9 milhões de toneladas do poluente. As emissões de metano da Marfrig rivalizam com as de todo o setor pecuário da Austrália.
O estudo também revelou que a soma das emissões de metano das 15 maiores produtoras de carne e laticínios do mundo chega a 12,8 milhões de toneladas, o que representa 80% da quantidade emitida no setor pecuário pela União Europeia e mais do que é emitido por países como Alemanha, Austrália, Canadá e Rússia.
Com relação aos gases de efeito estufa, as produtoras com sede no Brasil mantêm suas posições, com a JBS na primeira posição (emite 287,9 milhões de toneladas de gás carbônico e óxido nitroso), seguida da Marfrig (libera ao meio ambiente 102,6 toneladas dos poluentes).
Juntas, a JBS e a Marfrig emitem 390 milhões de toneladas de gases de efeito estufa e 6,7 milhões de toneladas de metano. De acordo com o estudo, esses valores indicam a prática de uma pecuária não sustentável que impacta significativamente o meio ambiente, contribuindo com o aquecimento global e gerando a degradação do solo.
Segundo estimativa do relatório, se essas 15 empresas juntas fossem uma nação, ela seria a décima maior emissora de gases poluentes do mundo.
Empresas destacam metas de redução
Por meio de notas enviadas à imprensa, tanto a JBS quanto a Marfrig informaram que têm metas de redução dos gases poluentes.
A JBS afirmou que planeja até 2040 atingir emissões líquidas zero de gases de efeito estufa. "Não vimos o relatório ou a metodologia que essas organizações de defesa de campanha podem ter usado para calcular as emissões. No entanto, quaisquer cálculos feitos sem o benefício de dados completos e precisos são meramente especulativos", informou a empresa.
Já a Marfrig contou que planeja diminuir em 68% as emissões de gases de efeito estufa da parte industrial da produção (processo que vai desde a transformação da matéria-prima em produto até a energia utilizada na planta das indústrias) até 2035. Outra promessa da empresa é que até 2030 ela só utilizará energia renovável.
Emissões de gás carbônico e óxido nitroso
No relatório, estão listadas as emissões de gás carbônico e óxido nitroso de produtoras do ramo de carnes e laticínios com sede em países como Alemanha, Brasil, Canadá, China, Dinamarca, Estados Unidos, França, Holanda, Nova Zelândia e Suíça.
Confira quais são as 15 maiores emissoras de gases do efeito estufa (GEF):
- JBS (sede no Brasil): 287,9 milhões de toneladas de GEF
- Marfrig (sede no Brasil): 102,6 milhões de toneladas de GEF
- Tyson (sede nos Estados Unidos): 83,8 milhões de toneladas de GEF
- Dairy Farmers of America (sede nos Estados Unidos): 45,6 milhões de toneladas de GEF
- Fonterra CO (sede na Nova Zelândia): 30,9 milhões de toneladas de GEF
- Groupe Lactalis (sede na França): 30 milhões de toneladas de GEF
- WH Group (sede na China): 23,9 milhões de toneladas de GEF
- Yili Group (sede na China): 22,2 milhões de toneladas de GEF
- Arla Foods (sede na Dinamarca): 18,9 milhões toneladas de GEF
- Nestlé (sede na Suíça): 18,8 milhões de toneladas de GEF
- Saputo (sede no Canadá): 18,1 milhões de toneladas de GEF
- FrieslandCampina (sede na França): 16,3 milhões de toneladas de GEF
- Danish Crown (sede na Dinamarca): 14,4 milhões de toneladas de GEF
- Danone (sede na França): 11,2 milhões de toneladas de GEF
- DMK Group (sede na Alemanha): 9,1 milhões de toneladas de GEF
Emissões de metano
No levantamento, também estão listadas as quantidades de emissão de gás metano de cada uma das produtoras de carnes e laticínios. Confira o ranking:
- JBS (sede no Brasil): 4,8 milhões de toneladas de metano (com 45% de emissão de GEF)
- Marfrig (sede no Brasil): 1,9 milhões de toneladas de metano (com 50% de emissão de GEF)
- Tyson (sede nos Estados Unidos): 1,6 milhões de toneladas de metano (com 51% de emissão de GEF)
- Dairy Farmers of America (sede nos Estados Unidos): 0,9 milhão de tonelada de metano (com 59% de emissão de GEF)
- Groupe Lactalis (sede na França): 0,5 milhão de tonelada de metano (com 47% de emissão de GEF)
- Fonterra CO (sede na Nova Zelândia): 0,5 milhão de tonelada de metano (com 43% de emissão de GEF)
- Saputo (sede no Canadá): 0,4 milhão de tonelada de metano (com 59% de emissão de GEF)
- Yili Group (sede na China): 0,4 milhão de tonelada de metano (com 51% de emissão de GEF)
- Nestlé (sede na Suíça): 0,3 milhão de tonelada de metano (com 47% de emissão de GEF)
- FrieslandCampina (sede na França): 0,3 milhão de tonelada de metano (com 47% de emissão de GEF)
- Arla Foods (sede na Dinamarca): 0,3 milhão de tonelada de metano (com 47% de emissão de GEF)
- WH Group (sede na China): 0,3 milhão de tonelada de metano (com 29% de emissão de GEF)
- Danone (sede na França): 0,2 milhão de tonelada de metano (com 56% de emissão de GEF)
- DMK Group (sede na Alemanha): 0,1 milhão de tonelada de metano (com 47% de emissão de GEF)
- Danish Crown (sede na Dinamarca): 0,1 milhão de tonelada de metano (com 28% de emissão de GEF)
Recomendações
O relatório também aponta uma série de recomendações para que os governos dos países em que as sedes das empresas estão possam aderir, com o intuito de reduzir as emissões de gases que contribuem com o agravamento do efeito estufa. Entre elas, está a adoção de uma legislação urgente que aborde os impactos climáticos significativos das corporações globais de carnes e laticínios e uma transição que transforme a pecuária industrial em agroecologia.
O documento também recomenda que as empresas adotem metas separadas de redução de metano e planos de ação efetivos para que consigam alcançar o objetivo.