Já nos acréscimos da 27ª Conferência sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP27), os 200 países participantes manifestaram concordância com a criação de um fundo destinado a compensar estragos causados por eventos naturais extremos em países pobres e especialmente vulneráveis a episódios desta natureza.
A confirmação da iniciativa, embora seja considerada um avanço significativo, ainda deixa em aberto uma série de medidas e definições complementares. Ao longo dos próximos meses, um comitê terá de definir detalhes como as listas de países contribuintes e de beneficiados, como o fundo vai ser operacionalizado e de que forma garantir os recursos necessários. Doações feitas pelos Estados Unidos, por exemplo, mesmo que acordadas pela diplomacia, precisam passar por aprovação do Congresso — onde a oposição republicana formou maioria na Câmara.
A mudança de posição dos EUA e alguns outros países desenvolvidos foi fundamental para permitir o acordo em relação ao fundo de "perdas e danos" na COP27, segundo o Wall Street Journal.
Uma das preocupações dessas nações, que estão entre as maiores poluidoras do planeta, era de que a concordância com o pagamento de reparações a países pobres que emitem poucos gases-estufa, mas sofrem as piores consequências ambientais, desse margem a ações judiciais em busca de uma responsabilização ainda maior dos grandes emissores de gás. Para destravar o impasse, chegou-se a um rascunho de acordo que não resulta em implicações legais posteriores.
A partir disso, será preciso determinar de forma precisa quais governos vão abastecer o fundo e quais poderão se servir dele. Uma das preocupações de americanos e europeus é a de que países como a China, que tem uma das maiores economias do mundo mas ainda é formalmente classificado como "em desenvolvimento", esteja no lado de quem aporta recursos e não de quem tem direito a eles, por exemplo.
Outra questão é como garantir que o dinheiro prometido será entregue. Até hoje, os Estados Unidos e a União Europeia jamais cumpriram uma antiga combinação de destinar US$ 100 bilhões ao ano para financiar o combate às mudanças climáticas. Nos EUA, peça-chave nesse plano, é preciso aprovar a destinação de recursos no Congresso — o que nem sempre é fácil. No ano passado, segundo o jornal New York Times, quando os democratas ainda controlavam a Câmara e o Senado, o presidente Joe Biden tentou liberar US$ 2,7 bilhões para esse fim com os parlamentares, mas só levou US$ 1 bilhão. Agora, com os republicanos à frente do Senado, a dificuldade pode ser maior.
— É importante notar que nós temos o fundo, mas precisamos de dinheiro para que ele valha a pena — declarou ao NYT o ativista Mohamed Adow, diretor-executivo de uma organização destinada a promover ações ambientais no continente africano.
As discussões na COP27, que formalmente terminou na sexta-feira (18), também foram estendidas para que alguns pontos cruciais sejam acordados. Um deles, considerado fundamental pela União Europeia, é a reafirmação do limite de 1,5°C a mais na temperatura média mundial em comparação aos níveis pré-industriais.
Esses países consideraram que um rascunho apresentado sem esta garantia seria um "retrocesso inaceitável". Ao mesmo tempo, a Índia tenta aliviar as obrigações de nações em desenvolvimento em relação às metas de redução no uso de combustíveis fósseis.